05 junho, 2012

quando as palavras falham



Acho que é mesmo assim, quando falham as palavras.
Sentam-se sozinhas, num banco abandonado, à beira de um precipício. Ficam ali, num estado híbrido entre a morte e a vida. Arrastam-se cansadas da realidade, alcoolizadas de orgulho.
Quando as palavras falham, falha também os gestos, a vontade, a emoção. Inanimadas, vegetativas. Perdem a cor, desbotada por golpes sangrentos da alma ferida. Derramam verdades incómodas, tatuam decisões ridículas. Masoquistas perpetuam a dor.
Assim são as palavras quando falham. Esdrúxulas, insanas, ambíguas. Escorregam por caminhos sinuosos, escarpados, que lhes rasga a pele fria. Perdem-se em pensamentos desconexos, contraditórios, imprevisíveis. Dementes, cegam o riso, sufocam o instinto. Num medo persistente que as afasta do que consideram perigo. Isolam-se, barricam-se, num cómodo vazio, onde o claro e o escuro não se distinguem. Enquanto a vida acontece ao virar de cada esquina e as palavras gastas, enclausuradas, se esgrimem em monólogos prolixos.
Acho que é mesmo assim, largamos o corpo num banco, sozinho, quando as palavras falham sem sentido.





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