27 abril, 2012

A direito

"Para quê dar mil voltas? O mundo é que as dá, não é? Eu vou a direito. (...)
A vida só acaba quando se deixa de viver."
Federico Moccia

23 abril, 2012

Una vez

"Solo se vive una vez"

A música ardia na sala ritmos frenéticos latinos. Entre a multidão agitada, não foram precisas palavras. Apenas o olhar. Olhos verdes penetrantes que invadiram no escuro, atravessaram o corpo, puxaram-no firme, despiram-no de receio. Enrolaram inesperadamente num deslizar constante de desejo. Envolveram num beijo que disparou o bombear do sangue, o batimento cardíaco. Os lábios que subiam o pescoço, apanhavam os meus desprevenidos, enquanto as mãos percorriam a cintura, o delinear das ancas, as minhas acompanhavam a forma do teu corpo, cada centímetro..Os corpos embalados naquela dança, possuídos, enquanto cantavas no meu ouvido.
Não foram precisas palavras. Há momentos espontâneos e simples, vividos apenas, intensamente, sem qualquer assunto.
Me quieres? Te quiero mucho.

17 abril, 2012

entre ferros


Por vezes vejo o céu, lá ao fundo, aprisionado. 
O imenso azul trespassado por ferro escuro a rasgar nuvens. 
Apodera-se de mim a tristeza da consciência, do que se perde e não volta mais. Não me apetece falar, sorrir ou escrever. É um estado catatónico, de inacção, inércia, rigidez. 
Há um brilho lá fora, eu sei, há um brilho que me chama incessantemente, mas eu não consigo ver. Não por agora. 
Talvez ainda me aperte a memória da cumplicidade vivida, ou me doa a falta da tua companhia, agora sonhada. Sinto falta de conversar contigo. O abraço que me sustentava, o vazio que me preenchias. Sinto falta desse abrigo onde me refugiava todos os dias. 
Há tanto, mas tanto, que ainda tenho para dizer amordaçado, mas as forças esmorecem com o cair da noite, e as estrelas hipnotizam o pensamento, o raciocínio. E nada faz sentido. 
Deixo-me estar aqui, isolada, neste lugar longínquo, como condenada. Vejo o céu a brilhar lá fora, sem perceber que sou eu própria que estou aprisionada. 
Falta-me o ar das palavras que me beijavas ao ouvido.



14 abril, 2012

centímetros



Então fica assim.
Temos a nossa distância de segurança. 
São estes os centímetros híbridos que nos separam. Tu e eu.
Um em frente ao outro na linha ténue, invisível, que traçámos a dois. 
Parados. Os corpos estremecem, os olhares refugiam-se embaraçados.
A boca seca, sedenta de um beijo molhado.
Passo a língua pelos lábios, enquanto os meus olhos perdem-se nos teus quando falas.
Mas as palavras soam ao fundo desconexas. Já não te oiço, o chão treme e a cabeça voa. 
Não me consigo concentrar. Desculpa. 
Talvez porque estamos perto, demasiado perto. E ainda assim, sei que não te posso tocar.
Confundes-me sempre a centímetros de distância, talvez seja o teu cheiro. Ou o teu olhar.
Enquanto me contas algo que não perceboos teus olhos sorriem. Sorriem e e só esse sorriso que vejo.
Indiferentes à multidão que embate nos nossos corpos, imóveis, a escassos centímetros, encontram-se inquietos os nossos olhos, percorrem impacientes as nossas bocas.
A imaginação atordoa-me numa espécie de falta de ar. Quase sufoco. Com se a vida parasse naquele instante insanoDebato-me comigo, enfurecida, na luta antiga, diabólica, entre a razão e desejo.
Resisto.
São incómodos os centímetros híbridos que nos separam de um beijo.


13 abril, 2012

Paraíso


«Paraíso
Deixa ficar comigo a madrugada
Para que a luz do sol me não constranja.
Numa taça da sombra estilhaçada,
Deita sumo da lua e da laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um porto
Onde eu oiça o estertor de uma gaivota...
Crepita, em redor, o mar de Agosto...
E o outro cheio, o teu, à minha volta!
Depois podes partir. Só te aconselho
Que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençois o lume do teu peito...
Podes partir, de nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso » 
David Mourão Ferreira


11 abril, 2012

Se...




Se pudesse abraçar-te sempre que penso em ti,
desmaiava nos teus braços em silêncio. Embalavas-me, num sopro, a alma inquieta. E ao nosso redor nada existia. Apenas teu corpo ancorava o meu, indefeso, que a ti se entregava, rendido.

Se pudesse ver-te sempre que os meus olhos procuram os teus no infinito,
encontrava-te na linha invisível que separa o prazer da dor. Encontravas-me. Perdida num cruzamento, à beira da estrada, onde os olhares tocavam-se sofridos.

Se pudesse beijar-te sempre que os teus lábios invadem os meus em memórias vivas.
Trinco levemente o lábio, molho-o com a língua. Perdia-me agora na tua boca insaciável, que devora o ritmo monótono do meu dia. Amava-te, extasiada, no limiar híbrido entre a realidade e a fantasia.

Se pudesse arrancar-te da imaginação por um instante,
e segurar no rosto o meu sorriso de ti, por tempo indefinido. Deixava escorrer do peito a lucidez fúnebre da ausência, o suor do medo irascível. No improvável desse instante, se pudesse ter-te dava-te tudo, tudo aquilo que não consigo.




10 abril, 2012

Coisas que me conquistam


[ter esta surpresa pela manhã]


«Nunca é agora entre nós, é sempre até Domingo, até sexta, até terça, até ao próximo mês, até para o ano, mas evitamos cuidadosamente enfrentar-nos, temos medo uns dos outros, o medo do que sentimos uns pelos outros, medo de dizer Gosto de ti
in Explicação dos Pássaros de António Lobo Antunes







09 abril, 2012

al menos


Que a cada manhã acorde com vontade de amar.
Abraçar-te descontroladamente, atirar-te ao chão. Espreguiçar-me pelo areal extenso do teu corpo e rebentar por fim num beijo intenso e salgado. Deixar-te o dia inteiro com a sede dos meus lábios, para que voltes ao fim do dia sequioso. Depois, lançar-te a teia dos meus braços, seduzir-te num olhar incendiado e no silêncio do meu sorriso enfeitiçar-te, e levar-te para o meu refúgio.



07 abril, 2012

Momentos


«Viver é não pensar nisso»

Tenho para mim, que planear demasiado é estrangular o momento.
É resumi-lo a um tempo, um espaço e acção. Amarra-lo. Sufoca-lo. 
É pensar nos actos antes de agir, nas sensações antes de sentir. É antecipar problemas, erros e discussões, enfrentar o abismo do depois. Sofrer pelo que não aconteceu.
Há uma magia inebriante no acontecer inesperado, na surpresa do instante, no espanto da novidade.
É como correr descontrolado de olhos vendados. Entre o medo do embate, há uma sensação inconsciente que se chama liberdade. Sente-se a vida a fervilhar por dentro, numa ebulição atordoante.
Percebo, com o passar do tempo, que cada vez gosto mais dos momentos surpreendentes, sem regras, sem justificação, sem planos. Gosto de vive-los simplesmente. Não pensar no porquê ou por quanto tempo. Se voltarão a repetir-se ou se os guardarei para sempre na gaveta das memórias. 
Tenho para mim, que os melhores momentos são saboreados na euforia da incerteza, na intensidade do agora e na ignorância absoluta do que existirá amanhã.




04 abril, 2012

Coisas que gosto



O chocolate quente, e companhia!

Espero-te



Sabes, estou perdida…
Como se as pernas não pertencessem ao tronco e a cabeça não soubesse o que coordenar. Os braços gesticulam cegos e da boca brotam, insaciáveis, palavras soltas que não sei de onde vieram, nem o que querem dizer. Depois são as pernas que sacodem o corpo inerte, levam-me numa espécie de sonambulismo para os lugares onde me esperam.
É uma sensação estranha, dormente.
Há sempre alguém que me espera. Alguém que tem algo para me dar, algo para me dizer. 
Esperam-me. Ou esperam de mim sem eu perceber.
Pergunto-me, no embalar do vento, se eu também espero alguém.
Não sei onde estás, mas talvez te espere.
No limite do absurdo, sacudo o tempo da ausência para refugiar-me no conforto do teu colo. O lugar seguro onde eu te espero. Lá, na cabana da praia, numa noite em que a chuva cai violenta. Bebemos o vinho tinto derramado pelos nossos corpos, despojados no chão. A minha boca deleita-se a percorrer suavemente o teu pescoço, enquanto as mãos tacteiam no escuro, procuram sôfregas o ritmo certo. 
Não sei onde estás, mas espero-te.


03 abril, 2012

à nossa volta


À nossa volta, o mundo muda de cor.
Um clarão de luz preenche o dia que se faz cinzento.
Lá fora os carros buzinam, as pessoas correm apressadas sem direcção. É a vida que se esvai num trovejar frio e gasto de ilusão.
Entre nós, há o momento estático que nos prende.
No calor do nosso encontro, ouso chamar-te "amor".
Mesmo que mal te conheça, de ti apenas saiba o teu olhar, o teu sorriso.
Não me importa que contem o tempo entre nós dois.
O meu corpo e o teu colidiram aqui, agora, neste abrigo. Basta-me.
Chove negro lá fora e eu tenho-te comigo.
À nossa volta, o mundo muda de cor.