08 outubro, 2012

Apneia



Deixa-me falar sobre o limite sensível.
O momento em que os meus olhos cruzam os teus desprevenidos. Entregam-se, prisioneiros de um desejo antigo, incontrolável.
As palavras, mudas, refugiam-se do perigo num silêncio imperturbável.
Tu avanças, eu não recuo.
Numa espécie de hipnotismo, amarras-me. Perco a orientação, o controlo da estrada.
O piso entre nós é curto, escorregadio, a inclinação é voraz.
Derrapo instintivamente no teu colo assustada.
Envolvem-me as tuas mãos, os teus braços.
Inalo o aroma do teu perfume, o calor da respiração acelerada.
Os teus olhos deambulam agora perdidos nos meus lábios trémulos, inseguros.
Continuo ali, confusa, paralisada.
Tu avanças, eu não recuo.
Porque os teus olhos prendem-me, ou eu prendo-me nos teus olhos extasiada.
Este é o meu limite sensível. Uma apneia da realidade.
Tenho evitado pensar em ti. E instintivamente sonhar-te.