08 fevereiro, 2021

Distrair-me da vida

Precisava distrair-me da vida. 
Existem dias assim, onde nos assola uma angústia de fuga. 
Pomos o pé de fora, a cabeça, tudo o que conseguimos. 
Mas hoje precisava mesmo distrair-me dela, completamente. 
Por uns dias, talvez semanas, não sei ao certo de quanto tempo preciso. 
Desligar o botão das horas, a asfixia do momento. Ficar quieta, transparente, distante, num qualquer lugar invisível. Não sentir os cheiros, os sabores, as memórias, vedar aos meus olhos a realidade clandestina. E largar-me nessa bolha anestesiante, a pairar num destino ausente, intangível.

30 janeiro, 2021

somos felizes


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Somos felizes quando amamos.

Digo para mim que é puro egoísmo. 

Queremos tanto ser felizes, que amamos. 

Loucamente. Sem freios, medos ou atilhos. 

Esculpimos a matéria-prima, moldamos ao nosso desejo e fantasia.

E ignoramos o que nos incomoda, varremos para baixo da cama 

ou fechamos em gavetas escondidas.

Porque a cegueira é o estado natural de quem ama, 

por vezes um perfeito desconhecido.

 

28 janeiro, 2021

Intenso

Intenso, 
se fosse uma palavra seria Intenso.
A inesperada aparição do corpo, da voz, do sorriso. 
O susto da súbita atração. O milagre do fascínio.
A visão sonhada do encaixe perfeito, o corpo leve despido de euforia.
Até o caminhar, os gestos, o olhar penetrante, 
as conversas viciantes que alimentam o dia.
A ansiedade na espera, que sempre demora,
a explosão do toque, quando chega, acelerando o batimento cardiaco.
Risos contangiantes, braços e pernas perdidos.
E naquela bolha, nada mais é importante, 
do que a liberdade de saborear a fantasia.
Intenso.
A palavra seria Intenso.
O melhor sonho da minha vida.  



25 janeiro, 2021

Quando se volta a escrever

 Quando se volta a escrever, há qualquer coisa de estranho. 

As palavras atropelam-se sem explicação e as frases parece não fazerem sentido. Mas quero muito voltar, expurgar aqui, neste meu canto, as emoções, os choros e os risos. 

Foram alguns anos de luta, para não escrever. Porque a escrita tanto nos preenche a alma como nos sacode o corpo e o atira ao chão. Por vezes torna-se um carrasco invisível. E eu recuei a medo, confesso. Medo das palavras escritas. Contruídas em frases que nos abana o caminho. É tão mais fácil seguir sem pensar, não trazer agarrado ao corpo todas as ervas daninhas. E a escrita revela os nossos espinhos, deixa por vezes em carne viva todas feridas.

Ainda assim, quero voltar a escrever. Escrever é também viver outras vidas, é ir a qualquer lugar, é sentir o que nem sempre nos é permitido. É sair de nós e sermos muitos, gigantes, invencíveis. 

Voltei ao curso de escrita criativa :) já é um avanço!! Espero vir aqui um bocadinho sempre que possível.