Parti. Não sei há quanto tempo. Sei que parti.
Deixei aqui, largado, apenas um espectro exausto, vestígio pálido do tempo que já esqueceu.
Não me reconheço, quando procuro, o riso inusitado dos impulsos momentâneos, a febre da ousadia do incerto, fogo indomável da chama que ardia, ávida, no meu peito.
Arranho agora um abismo de silêncio. Um buraco negro, infindável, na essência, onde reside uma paz fria, surda, surreal.
Há contudo, neste desfilar trôpego, de movimentos desajeitados, um corpo que se oferece meigo e aprazível, um coração solitário que pulsa num ritmo intermitente, rendido ao âmago da saudade, a falta que a alma lhe faz.
Parti - digo-lhe baixinho. Não compreende.
Não há nada aqui que me pertença.
E eu já não pertenço a este lugar.
