É tão fácil dizer “amo-te” que torna banal o amor. Não
aquele entre amigos e família, que esse não interessa à mais eloquente poesia.
O outro. O romântico e louco, que os poetas recitam sobre dois seres que se
entregam de corpo e alma para todo o sempre. Como se o “sempre” fosse algo
atingível.
Quando oiço essa palavrinha arranhada digo para mim que esse
Amor é estúpido. Depois reconsidero, não é o amor, são as pessoas. Aquelas que
mais proclamam tamanha loucura. Há quem ame tudo, a toda a hora, de boca cheia
e peito inchado de orgulho. Desde a formiga que passa em carreiro pela cozinha,
até a cozinheira do restaurante onde almoça todos os dias. E, olhando bem nos
olhos baços dessas pessoas, apenas sabem que amar é um verbo e que só o conjugam na primeira pessoa.
[Há um homem que vai de bicicleta comigo todos os dias no comboio.
Conheço há anos, o seu colete florescente e cada traço do seu rosto enfiado
num capacete. Já lhe perguntei as horas apenas para ouvir a sua voz. Gosto de o
ver pela manhã, contempla-lo a sair no Cais do Sodré de bicicleta na mão. Era
capaz de o observar um dia inteiro, tomar um café com ele e perguntar-lhe o que quer da vida neste mundo dormente. Gosto estupidamente dele. Não o amo.]
Foram poucas as vezes que disse “amo-te”. Porque
foram também poucas as vezes que realmente amei alguém, mas não lamento. Quando amei fui estupidamente
verdadeira. Não duvido que quando disse “amo-te” por palavras e gestos, saiu
límpido dentro de mim, como a certeza mais pura. Talvez tenha amado pouca
gente, quase ninguém, mas quando o fiz, não gastei a palavra em vão. Fui
autêntica, transparente.
Não respiro na opacidade da mentira.
6 comentários:
O verdadeiro Amor, é bipolar...ou nos enche o peito de ar, ou nos parte em bocados. O que está no meio é um misto de sentimentos.
Ninguém Ama por aí, descontroladamente! Há todo um caminho a percorrer.
Gostei muito...beijos
Eu, pelo contrário, disse-o e continuo a dizê-lo muitas vezes mas a muito pouca gente que tenha passado na minha vida... E quanto mais o digo, ou melhor, se mais o expresso, então é porque de banal não tem nada e cada vez que o digo é porque é cada vez maior, mais intenso ;)
Esta é mesmo aquela palavra que só me saí da alma, e não da boca :)
Estupidamente verdadeira! Acima de tudo, mai nada!
Beijo grande
Concordo com as suas palavras, as pessoas hoje em dia dizem que amam com uma facilidade absurda quando na verdade amam apenas a si mesmo!
Acredito que o amor é um sentimento lindo, repleto de sentidos que não conseguimos expressar com exatidão usando palavras!
Adorei o texto
Estou seguindo o blog
http://moniabrao.blogspot.com/
beijos
T. também acho que ninguém ama assim descontroladamente "por aí"! Este texto era um bocadinho irónico, quase sarcástico, assim um espécie de ode anti-falsos-amores!! Mas bipolar acho que é mais a paixão, aquele bicho neurótico ;) beijo grande
Sabes Natacha, hoje fui com o senhor da bicicleta e estive quase para lhe perguntar o que achava sobre o Amor... mas ele nem me mostra os dentes, acho que nem sequer gosta de mim (poor me).Como não hei-de ser assim??!! Este post era um pouco irónico mesmo, mas claro que tem um fundo de verdade,"amo-te" é uma palavra que não me sai com facilidade sem ser nas minhas historietas, Just me :)
é verdade Moni, há por aí muito Amor literato egocêntrico e, vendo bem, as palavras podem significar tão pouco se não forem acompanhadas dos gestos certos na altura certa! Obrigada pela visita e ... estou te seguindo, viu?! beijo
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