«Nunca é agora entre nós, é sempre até Domingo, até sexta, até terça, até ao próximo mês, até para o ano, mas evitamos cuidadosamente enfrentar-nos, temos medo uns dos outros, o medo do que sentimos uns pelos outros, medo de dizer Gosto de ti.» António Lobo Antunes
17 janeiro, 2012
Tu-inventado
Há um silencio profundo que se chama "verdade".
"Nunca me perdes com a verdade" disseste-me um dia.
Curiosamente, foi com as verdades que sempre me perdi do que mais queria.
Sei, agora, que não foste mais do que a minha própria invenção.
A fantasia envolta em sedas que docemente criei, a obra que esculpi com as mãos hábeis da imaginação. Fantasma de sonhos, perdido em noites de memórias, de medo e solidão.
Queria tanto, mas tanto, que existisses! Era tão ávida de paixão, era tão intenso o meu desejo.
Acreditei-te, com a ingenuidade de uma criança, a simplicidade de um pastor e a cegueira de um errante. Porque assim o quis, porque pintar-te ao meu jeito fazia-me feliz, levava-me para longe, fugia de mim. Não sinto falta de ti-inventado, mas egoisticamente do prazer que me proporcionaste. Dos beijos envolventes imaginados que embriagada bebi, do calor dos teus braços que no escuro da ilusão me enlaçaram, do cheiro que inventei para ti, do sabor do teu tacto.
Acreditei-te com a fé de um peregrino que caminha confiante sem destino nenhum.
Mas acreditar exige esforço e continuidade.
E afinal, tu não existes...
Apenas vejo a sombra da desilusão trespassar as cortinas do meu quarto. A visão embaciada, o sangue a bombear descompassado e a cabeça rodopia atordoada, não acredita em mais nada.
Desacreditar é este buraco enorme que escavo em mim, a tristeza que persegue todos meus passos, as lágrimas que dormem teimosas na minha almofada.
É só mais um dia, umas horas, e o sono acabará por chegar de madrugada e sufocar o vazio que deixaste.
Conseguiria eu viver uma realidade fingida? Não, nunca fui por ai.
Tu não existes, eu sei. Foste inventado.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
7 comentários:
Quando tristeza leio eu neste post. E quanto revejo o meu passado escrito nestas palavras.
Não inventamos estes "tus" apenas eles não se transpuseram para a nossa realidade.
Criaste as sedas em teu redor, e deixa-me dizer que bela borboleta saiu desse casulo =) E estou cá para te proteger de qualquer caçador de borbopletas que para aí andes!.
Agora, há toda uma nova etapa a percorrer.
Fico envolvido em cada palavra que escreves.
beijinhos
Sol, é assim como a decepção de uma criança quando lhe dizem que a Fada dos Dentes e o Pai Natal não existem, crueldade... (e estes são mesmo difíceis de transpor para a nossa realidade!!). Estou a brincar :) sim, há momentos tristes quando se perde um "encantamento" ou invenção, e depois há a necessidade de dizer estes disparates para animar!!
Beijinhos
T., uiii se eu pudesse voar, não havia rede ou caçador que me apanhasse :)
Eu vou parar de inventar por um bocadinho sim!
Obrigada caro mio, um beijo grande
Que venham os disparates então, que tristezas não pagam dívidas!
Beijinho
Muito bem escrito!
Obrigada! :)
Enviar um comentário