"É aqui que ficam as memórias", repetia enquanto os pés raspavam a terra barrenta em círculos.
Neste lugar abandonado, escondido do mundo, onde me encontro comigo. É para aqui que as trago, arrastadas, a ferros grossos e cordas firmes. Rasgam-me a pele fina que sangra agora em carne viva.
É aqui que ficam, largadas neste banco esquecido, as recordações mais apetecidas. E aqui despeço-me delas, num abraço dos meus braços, afago o meu pescoço, mordo o lábio, percorro-o com a língua. Saboreio, por segundos de loucura, o desejo antigo de ter-te comigo. A tua voz surge de repente ao meu ouvido, arrepia-me, depois acalma-me. Deixo-me embalar embriagada numa espécie de sonambulismo.
Acordo. Acordo sempre neste lugar perdido, um beco escuro no cemitério de risos. E sei que é este o lugar para abortar a insatisfação a frio, sem anestesia, fico por tempo indefinido.
É aqui que apago os momentos dolorosos de desejo amarrado e contido, por debaixo de uma lâmpada enferrujada e fundida. Onde não vejo absolutamente nada. Não preciso de qualquer sentido. É na escuridão de uma morte voluntária e premeditada, que jazem inquietas todas memórias do que é sonhado e não é vivido.
2 comentários:
Numa aparição inesperada encontro-te despida de sentidos, sentada naquele banco num canto escuro, quase que esquecido. Abraço-te, estás fria e ausente de alma. Escorre uma lagrima e com ela trazes memórias do fundo do coração. Aqueces e a lâmpada volta a acender-se. Ganhas vida cor e expressão. E a luz volta a apagar-se. Nao precisas mais que brilhem por ti, iluminas sozinha de novo todo o caminho. Reaprendes a abdutor e corres em direcção á vida.saio de palco, e peço desculpa á autora por ter passado naquela rua escura.
Para 1º ensaio de escrita em dueto não foi nada mau!!com o problema que eu não sei o que é o "abdutor" está fantástico :P
E agora para não dizeres que sou bruta, vou ser lamechas, gostei muito, mesmo, já estou mais quentinha e brilho tanto que ofusco!! obrigada
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