05 setembro, 2012

Consciência

Há dias abandonados.
Povoados de sofrimento e inquietação. Um fantasma, uma casa assombrada. Onde as paredes estremecem. O chão de madeira gasta range, as luzes apagam-se fúnebres no velório da solidão.
Até a chama das velas se encolhe ante o peito que arde em violência, irado, derrama uma lava brilhante de vulcão.
O espectro moribundo, habita a gaveta da memória. Um espaço minúsculo trancado, revolto, desarrumado na incompreensível anarquia da emoção.
Atrevo-me a dar-lhe um rosto, um corpo e até um nome. Uma forma de andar desengonçada, uma voz aveludada meiga. Pormenores que tatuam a alma abandonada. Resquícios do tempo que passou por mim apressado, trilhos distantes em quilómetros de desilusão. Reconheço, entre a surpresa e a dor, que sou eu mesma, o fantasma. Ele possui-me, habita-me numa estranha calma. Sorri.
São dias aprisionados, na insuportável realidade. Acordo com a lembrança dolorosamente clara, da vida que ainda não vivi.

(um repost meu antigo, remendado, remexido, ficou igual...)

1 comentário:

Stranger! disse...

Este hoje encaixou na perfeição!

Bjs mein freund!