18 julho, 2011

Beijam-se



Os olhos encontram-se numa praia qualquer junto a um rochedo.
Beijam-se num choque violento, invulgar, que transpõe a retina. A visão fica turva e tudo à volta desaparece numa espécie de tontura. Perde-se a direcção. Por magnetismo os corpos aproximam-se lentamente, num galopar interior impaciente. A pulsação acelera e os rostos debatem-se de dúvidas e hesitação. Frente a frente, os lábios, a milímetros, anseiam tocar-se. Anseiam mas resistem. Trai-os a respiração quente que os invade como uma brisa de desejo. A milímetros, a respiração dele desliza, percorre-lhe o pescoço, os lábios roçam ao de leve como veludo. «Um golpe baixo» ela rende-se envenenada. Os lábios escorregam quentes, húmidos. Também húmida é a areia da praia onde os corpos se entregaram desamparados sem notar. Ardem, descontrolados, flamejam junto ao mar.
A respiração sobe devagar, lambe-lhe o pescoço impunemente. Sente-lhe o peito firme, apertando de encontro ao seu. Estremece e o coração salta-lhe desenfreado. Os lábios dele continuam a percorre-la rente ao queixo, contornam-o subtilmente. A milímetros respiram hesitação, mas estão já embriagados da sede de se violarem mutuamente. Primeiro raspam-se, roçam para sentirem os contornos, o volume, a forma. Ela desenha-lhe a boca com a ponta da língua, trinca-lhe ao de leve o lábio e depois saboreia-o. Invade-lhe a boca sem permissão.
Beijam-se as línguas, sedentas, numa dança ritmada. Mistura-se a saliva, os odores das peles.
Beijam-se as mãos pelos corpos inebriados de prazer. Ondulam numa melodia mágica de sons e sabores. Beijam-se os braços, o peito, as costas, as pernas. A areia mistura-se, entranha-se na transpiração. Beijam-se intensamente, numa entrega carnal, como se não houvesse mais nada, mais ninguém. Beijam-se sofregamente, na violência do tempo que urge, finito, como se não houvesse amanhã.

2 comentários:

Pedro disse...

Onde é a praia?
Gostava de lá ir conhece-la.

sgar disse...

Arranja uma nave, fica perdida algures no sistema solar :)