16 janeiro, 2012

Embalar o tempo



Gosto de embalar o tempo com uma canção. Num sussurrar indefinido, carente, desamparado.
Poderia quase chamar-lhe um sonho, se algum dia me lembrasse de ter sonhado. Assim, chamo-lhe canção de embalar.
Sento-me no seu colo e abraço-o contra o meu peito, afago-o num gesto meigo, como se lhe passasse a mão suavemente pelo cabelo encaracolado. Ele é esquivo, furtuito, agarro-o sempre com um beijo inesperado, impulsivo, de quem mergulha sem hesitar. E as línguas dançam aventureiras, enquanto o embalo embriagado no beijo mais intenso que podia cantar. Prisioneiro dos meus braços, ele não resiste. Acompanha o ritmo do meu corpo, docemente, reage ao som rouco que trauteio solitária. Parece nem reparar.
Gosto de embalar o tempo com uma canção, que me acalente a alma e faça voar.
A corda acaba a qualquer momento, para depois recomeçar.


2 comentários:

S.o.l. disse...

Eu senti-me embalada pelas tuas palavras e não sou o tempo :)

P.s. Se o texto não fizesse referência às "linguas" eu diria que este embalo do tempo poderia ser um embalo de uma criança. Eu estava a lê-lo e a imaginar isso, até essa parte claro :)

:)

Beijinho

sgar disse...

Sol, o tempo também pode ser uma criança, quando a ingenuidade se apodera dele, e assim se embala e abraça e beija, e acaba um dia desamparado e recomeça depois noutro, outra vez sorridente :) um beijinho