Gosto de embalar o tempo com uma canção. Num sussurrar
indefinido, carente, desamparado.
Poderia
quase chamar-lhe um sonho, se algum dia me lembrasse de ter sonhado. Assim,
chamo-lhe canção de embalar.
Sento-me
no seu colo e abraço-o contra o meu peito, afago-o num gesto meigo, como se lhe
passasse a mão suavemente pelo cabelo encaracolado. Ele é esquivo, furtuito,
agarro-o sempre com um beijo inesperado, impulsivo, de quem mergulha sem hesitar. E as
línguas dançam aventureiras, enquanto o embalo embriagado no beijo mais intenso
que podia cantar. Prisioneiro dos meus braços, ele não resiste. Acompanha o
ritmo do meu corpo, docemente, reage ao som rouco que trauteio solitária. Parece
nem reparar.
Gosto
de embalar o tempo com uma canção, que me acalente a alma e faça voar.
A
corda acaba a qualquer momento, para depois recomeçar.
2 comentários:
Eu senti-me embalada pelas tuas palavras e não sou o tempo :)
P.s. Se o texto não fizesse referência às "linguas" eu diria que este embalo do tempo poderia ser um embalo de uma criança. Eu estava a lê-lo e a imaginar isso, até essa parte claro :)
:)
Beijinho
Sol, o tempo também pode ser uma criança, quando a ingenuidade se apodera dele, e assim se embala e abraça e beija, e acaba um dia desamparado e recomeça depois noutro, outra vez sorridente :) um beijinho
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