26 setembro, 2013

Tudo


Ao fim deste tempo todo, continuas comigo.
Numa distância que não separa. Numa cegueira que não esquece ou apaga. Cada contorno do teu rosto, cada rasgo do teu olhar sorrindo.
Continuas aqui, vagueando pela corrente que nos arrasta, sem rumo. Apenas tu, sem dinheiro, casa ou trabalho, sem nada. Abandonado em mim, por todo o lado.
E há dias em que te vejo numa qualquer esquina por onde passo, e sinto no meu pescoço a tua respiração quente no vazio de gente que me circunda. Outros dias afagas-me o rosto e abraças-me, como se me enrolasses no teu casulo mágico, e oiço, no silêncio em que adormeço, a tua voz rouca, numa calma melodia.
Continuas em mim, por mais que o tempo insista em fugir do nosso alcance e o destino seja uma palavra ingrata. Distorcida. 
Há pessoas que não têm nada, não querem nada.
Há pessoas que são tudo.


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