«Nunca é agora entre nós, é sempre até Domingo, até sexta, até terça, até ao próximo mês, até para o ano, mas evitamos cuidadosamente enfrentar-nos, temos medo uns dos outros, o medo do que sentimos uns pelos outros, medo de dizer Gosto de ti.» António Lobo Antunes
03 outubro, 2013
braço de ferro
Podia ser sempre assim entre os dois - Um braço de ferro comandado de orgulho e insatisfação.
Um silêncio oco, asfixiado, moribundo. Vazio de emoção.
Cruzam-se. E prendem-se repetidamente um no outro.No frio do corredor estreito, no barulho das vozes do café, no passeio gasto da rua, no cubículo apertado do elevador. Prendem-se os olhos mutuamente, e naufragam num mar profundo, sem respirar. Uma apneia que invade o corpo inteiro, entorpecido, recordando memórias incompletas que não consegue apagar. Cruzam-se, e ainda sufocam as palavras enterradas.Interditas. Cada um guardou, para si, as que mais podem magoar. Raspam-se e estremecem. Soltam um aceno esquivo, um cumprimento banal. Engolem em seco, e fingem tão amargamente não reparar.
Depois.Os olhos dela ainda vagueiam nas costas largas quando ele se afasta. Ele ainda persegue o ondular do seu cabelo e a forma descontraída de andar.
Podia ser sempre assim entre os dois - Um braço de ferro mudo, movido com a força do olhar.
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