«Nunca é agora entre nós, é sempre até Domingo, até sexta, até terça, até ao próximo mês, até para o ano, mas evitamos cuidadosamente enfrentar-nos, temos medo uns dos outros, o medo do que sentimos uns pelos outros, medo de dizer Gosto de ti.» António Lobo Antunes
24 agosto, 2011
Pensar
Eu não costumo pensar nas coisas. Só quando elas deixam de fazer sentido.
E é um acto tão natural como ver o sol nascer de manhã e não pensar mais nisso. O sol nasce de manhã e essa é a ordem natural das coisas.
Pensar nas coisas é por em causa todo o significado que elas têm para nós.
Sempre que senti necessidade de pensar nas coisas, essa vontade foi aniquilada pelo desejo voraz de prazer momentâneo.
Pensar é incómodo, penoso.
Sou dominada pelo impulso, pela emoção do instante à miragem do prazer, da satisfação. Rasgo-me por dentro, odeio-me, desprezo-me, quando me traio ao disfarçar-me de racional, como se agisse com segundas intenções.
A reflexão e a análise são coisas que me agridem.
O juízo é algo a que não me permito.
Ser imparcial é uma pretensão que não tenho.
Cada um encerra em si próprio a responsabilidade de ser feliz e a possibilidade de participar na felicidade do outro. Como um exercício da sua vontade e não como um fardo que tem de carregar. A traição do outro provoca uma dor estupidamente superficial ao comparar com a da nossa própria traição. Uma negação de ser feliz.
Sou sedenta de prazer e nada é mais doloroso do que deixa-lo escorrer por entre os dedos. Instintivamente, o desejo incontrolável sobrepõe-se a qualquer teoria, chutando a razão para um canto sem qualquer arrependimento. Pensar é deixar de sentir.
(ando a vasculhar caderninhos antigos numa espécie de obrigação resignada... este texto é de 1995)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário