«Nunca é agora entre nós, é sempre até Domingo, até sexta, até terça, até ao próximo mês, até para o ano, mas evitamos cuidadosamente enfrentar-nos, temos medo uns dos outros, o medo do que sentimos uns pelos outros, medo de dizer Gosto de ti.» António Lobo Antunes
30 setembro, 2011
Bolhas de Ar
Foi despida que se entregou às águas encantadas que a abraçaram. Sentiu que era lá que encontraria a calma que desesperadamente procurava. Um mar imenso de água salgada, sereno de palavras, tão belo como infinito. Porque toda a beleza é, por si só, ilimitada.
Pensou em dar um único mergulho, para se refrescar do calor do Verão. Era apenas um ir e voltar fugaz. Por isso entrou nua de medo, mar dentro, desprotegida, despida de hesitação, sedenta de paz.
O mar foi arrefecendo o ardor das feridas gravadas na pele, curando-as com bondosa suavidade e atenção. O seu ritmo, tranquilizante, embalava-a, como por magia, entre carinho e paixão.
Sem notar, estava já longe da costa, rodeada da água salgada, perdida em alto mar. Não percebeu o que aconteceu, porquê, ou como foi ali parar. Apenas submergia o seu corpo frágil, não sabia se vivo ou morto, naufragado a flutuar.
Tentou esbracejar, em vão, assustada, quando percebeu que se estava a afastar. Sem fôlego não conseguia mais debater-se com as correntes que a arrastavam e puxavam para o fundo do mar. Num remoinho de dúvidas, apoderou-se dela uma espécie de paralisia que a impossibilitou de nadar. Deixou-se ir, pelos lábios da maresia que a percorriam sequiosos, impedindo-a de pensar. Daquela forma esdrúxula, imprevisível, intensa, apertava-lhe os pulmões violentamente, deixando de respirar.
Em águas profundas, encontra-se um corpo despojado, tão maravilhado quanto agitado, preso a uma rede de indecisões, sem saber se deve fugir ou ficar.
«tenho medo» sufoca entre espasmos de dor, soltando lágrimas aprisionadas em bolhas de ar.
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