«Nunca é agora entre nós, é sempre até Domingo, até sexta, até terça, até ao próximo mês, até para o ano, mas evitamos cuidadosamente enfrentar-nos, temos medo uns dos outros, o medo do que sentimos uns pelos outros, medo de dizer Gosto de ti.» António Lobo Antunes
25 outubro, 2011
Carta a quem nunca se esqueceu
Se pudesse escolher um momento da vida para parar o tempo,
escolhia as horas daquela noite que nos pertenceu.
Não o momento, tanto tempo depois, em que os corpos se entregaram,
sofridos em vez de sôfregos, confusos e destruídos.
Mas a noite virgem, mágica, em que se tocaram de dentro para fora,
tactearam no escuro, cheiraram-se, roçaram cada milímetro de pele,
aventureiros destemidos, como se aquele instante fosse o fim do mundo.
Se pudesse escolher um momento, seria essa noite embriagada nos teus braços,
não deixaria romper o dia, carrasco de sonhos impossíveis.
Viveria a vida toda nessa escuridão, numa cegueira voluntária, sem medo, sem nada,
numa tenda montada no meio do mato, desalojada, em qualquer canto do planeta.
Mas a teu lado, só queria estar a teu lado. À beira de uma estrada ou no cume de um precipício.
Em qualquer lugar, enrolada no teu corpo, nas tuas pernas compridas,
sentir a tua respiração no meu rosto, a voz quente nos meus ouvidos.
Alimentar-me dos beijos impregnados de álcool e tabaco, tudo teu eu queria.
Era esse o momento que eu eternizava, e vivia, repetidamente, dia após dia.
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