15 novembro, 2011

Gaivota sem mar



Quanto sofre uma gaivota se lhe tirarem o mar?
Pergunto na ilusão de um olhar.
É uma sensação antiga, fala-se muito mas conversa-se tão pouco. São sinais sonoros acompanhados de movimentos dos músculos a boca. Sons, ruídos escuros, defuntos. Nadas, pronunciados sem pensar.
Há uma escassez das palavras conversadas em diálogos verdadeiramente sentidos. Abafadas pela torrente de palavras que se juntam em frases banais, estereotipadas, absurdas, ridículas. Chamam-lhe racionais. Não me interessa para nada o tempo, a economia, o dia de trabalho cinzento. E todos os assuntos vulgares.
São barulhos que perfuram o prazer dos sentidos, com a violência de quem nada tem para dizer, enquanto outros, escondidos num silêncio, têm tanto para nos dar.
É possível amar palavras estrangeiras que zumbem nos ouvidos, deslumbrando a alma, confusa, de quem nada tinha a esperar. Envolver-se nelas, como num abrigo clandestino, abraça-las e guarda-las no mais profundo de nós sem pensar. Sonha-las, quando só o sonho é permitido. Vivê-las até onde o diálogo nos levar.
É possível amar as palavras, as que nos assaltam o peito agitado, tornando monólogos em longas conversas por explorar. É possível, tão possível, que um dia acabamos por nos apaixonar por essas mesmas palavras insanas, vadias, que nos cruzaram a vida, romperam a rotina, com um simples dialogar.
Conversas que nos despem os corpos frágeis, beijam a pele sensível, numa intimidade que assusta porque queremos sempre mais e mais. E o vício é sufocante, a dependência mortal.
Para sobreviver, sofre-se, bastante.
Como uma gaivota a quem tiraram o mar.




2 comentários:

T disse...

"...enquanto outros, escondidos num silêncio, têm tanto para nos dar."

Vamos lá esquecer, as situações banais.

Isso de teres a mesma música que eu no perfil... =P

Beijos

sgar disse...

Desta vez eu é que "descobri" sozinha a música :P mas não me importo de partilhar contigo, claro!!
beijos