Estava sentado à minha frente, de cabelo desgrenhado, com o olhar perdido no mesmo vidro que eu. Sorri, apenas devolvendo o sorriso dele que, reflectido no vidro, embateu abruptamente no meu.
Voltámos ao vidro da janela, indiferentes aos grafitis que o riscavam da noite, que corria lá fora veloz, sem nós. Era um olhar vazio, cego, vagueava em vão, não procurava nada. Pelo menos, nada lá fora. A nossa busca era dolorosamente interior. Talvez por isso os olhares cruzaram-se agora de frente, demoradamente, partilhando a solidão. Compreenderam-se, estranhos cúmplices dum silêncio dormente, prenderam-se um no outro por instantes sem hesitação.
Voltei a olhar o vidro baço, como se a minha vida corresse lá fora com a noite, conseguia vê-la passar na escuridão.
"É seu?" - debruçou-se, numa voz rouca, apanhando uma folha do chão.
Estremeci. Ele sorriu. Eu sorri e acenei.
Podia ter-lhe dito "olá". Não disse nada. Saí de repente na minha estação.
4 comentários:
A mania de deixar cair tudo por todo o lado...E depois nem agradeces ao pobre Rapaz, que desgastou as vértebras para te apanhar uma folha do chão....pfff (o teu)
beijos e como sempre gostei ;)
ele compreendeu, falava o mesmo silêncio que eu :)
obrigada, beijos
Sairá um olá sem constrangimento da próxima vez... um olhar um pouco mais cumplice ;)
Quem sabe Sol! Gosto de estranhos silenciosos :)
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