18 outubro, 2013

Quando quiseres




Ama-me.
Não precisas dizer mais nada.
Pode ser amanha de manha, na sexta ao final da tarde ou na próxima semana. Se preferires, pode ser daqui a um mês, um ano se for preciso, ou ainda hoje, se me quiseres. 
Mas ama-me, um momento que seja, intensamente.
Sem a pressa do compasso das horas, ou o ritmo frenético dos minutos que nos arrasta confusos, no escuro.  Enquanto o bombear do sangue, quente, nos percorre o corpo frágil, moribundo. Dá-me vida. Tira-me o fôlego.
Nesse instante, sei que vou te amar na eternidade do segundo que nos resta. Desesperadamente. Na explosão do desejo, sem te avisar. 
Ama-me, quando quiseres. Sem hora marcada, sem qualquer explicação.
Ama-me, apenas.
Só porque te amo.
Só porque me queres amar.

03 outubro, 2013

braço de ferro



Podia ser sempre assim entre os dois - Um braço de ferro comandado de orgulho e insatisfação.
Um silêncio oco, asfixiado, moribundo. Vazio de emoção.
Cruzam-se. E prendem-se repetidamente um no outro.No frio do corredor estreito, no barulho das vozes do café, no passeio gasto da rua, no cubículo apertado do elevador. Prendem-se os olhos mutuamente, e naufragam num mar profundo, sem respirar. Uma apneia que invade o corpo inteiro, entorpecido, recordando memórias incompletas que não consegue apagar. Cruzam-se, e ainda sufocam as palavras enterradas.Interditas. Cada um guardou, para si, as que mais podem magoar. Raspam-se e estremecem. Soltam um aceno esquivo, um cumprimento banal. Engolem em seco, e fingem tão amargamente não reparar.
Depois.Os olhos dela ainda vagueiam nas costas largas quando ele se afasta. Ele ainda persegue o ondular do seu cabelo e a forma descontraída de andar.
Podia ser sempre assim entre os dois - Um braço de ferro mudo, movido com a força do olhar.