27 dezembro, 2012

lugar longínquo


Toda a desilusão é uma distância.
Um lugar longínquo onde te perco de visão.
Pelo caminho, as promessas, atropeladas, rastejam sangrentas até à berma da estrada.
Morrem sós, ridículas.
Por fim, já não te encontro.
Nem o cheiro da tua pele quando me abraçavas, ou vicio de ter-te sempre comigo, ou ainda o medo de perder-te para sempre. Nada. Já não te procuro. Nem te respondo. Como se as tuas palavras fossem ecos num acordar de uma anestesia.
Entre nós, não existe mais nada, para além de um silêncio triste.
No imenso vazio desta escuridão percebo, aliviada, que já não existes.
Hoje tu és distância.
És desilusão, um lugar longínquo.


09 dezembro, 2012

As it seems




«Well I knew what I didn't want to know; and I saw where I didn't want to go (...) Cause this life is as fragile as a dream, and nothing's ever really as it seems...As it seems...»

Encontrei esta musica perdida no meio de palavras fantasmas, e perdi-me por momentos na ilusão desta música. 


06 dezembro, 2012

Sentido


Não sei se algum dia procurei "o sentido". 
Gosto de pensar que o sentido não interessa para nada, que não me faz falta. 
Ainda que o caminho se revele torto e sinuoso, por vezes insólito e confuso. Não o questiono, apenas sigo o meu caminho, sozinha. Não gosto de planos, de muitas regras e explicações. Não gosto "do sentido" dogmático, como se não houvesse alternativa. É nesse meu mundo, isolado, de anarquia de sentido,  que habito frequentemente, admito, sem preocupações.

As Avenidas sem Sentido, são isso mesmo, espelho de vários caminhos possíveis, horizontes distintos e distantes, contudo, todos eles virgens,  livres e repletos de sonhos. Porque os sonhos não têm sentido. E o meu conto, provavelmente, também não.

Esta é a capa da colectânea de contos onde participo. O meu conto "Decisões imperfeitas" é uma história sobre decisões vividas num passado que não termina e ironicamente se repete.
Espero que gostem!



26 novembro, 2012

Historias inacabadas

Era uma rapariga estranha, solitária,
que vivia no mundo das histórias inacabadas.
Tinha um sorriso bonito, brilhante, quase perfeito
Porém, tal como ela, era distante,
talvez triste, enigmático.
Ninguém sabia porquê, mas aquela rapariga estranha, solitária
Quase amou.
Quase foi amada.
Quase foi feliz.
E numa noite de inverno gelada,
aquecida em beijos de palavras de quem quase a compreendeu
Ela quase viveu
As fantasias que sonhava.
Mas era uma rapariga estranha e solitária.
Talvez por isso ninguém reparava
que trazia as costas, penduradas,
todas as suas historias inacabadas,
tristes e dilaceradas em golpes amargos do destino,
esse cruel companheiro que de perto a observava.
Como que amaldiçoada
Deixava sempre uma ponta solta,
Um nó por desatar,
Uma palavra sufocada entre frases gastas, que deixava naufragar.
Depois? Olhava em redor conformada,
recolhia ao silêncio do seu mundo desabitado
Sozinha.
Quase desistia.
Mas nunca enterrava
mais uma história que amava, e revivia, inacabada.




18 novembro, 2012

da nossa distância




É sempre mais um dia, mais uma noite da nossa distância.
Do amargo adeus, gravado num pulsar de vida
enquanto a névoa da tua imagem esmorece numa tarde fria,
triste, eterna
Procuro-te sempre, errante, a cada amanhecer,
em todos os caminhos que, incansável, persigo
Procuro o rasto do teu cheiro, o teu fôlego,
o olhar vítreo que quebra quando sussurro baixinho:
"vou amar-te toda a minha vida"
E ecoa um silêncio profundo, dormente, que me aterroriza
"ainda?" perguntas por fim, de sorriso embargado
por mais uma noite de vigília
Escondo o olhar preso no ultimo beijo
E abraço o corpo gelado
"sempre" solto num gemido abafado
estarei sempre à tua espera,
entre a distância do dias .

10 novembro, 2012

Entre mundos


É como se o caminho fosse infinito.
Só houvesse uma direcção e, ao redor, um nevoeiro medonho.
Caminho em frente, persigo o trilho, numa sonolência imensa que comanda o corpo.
Não me apetece ficar, apenas fugir para algum lugar onde não me encontro.
Distante de mim, procuro entre mundos um balão de oxigénio.
É tão insuportável o passar do dia quando não se quer o que se espera.
É tão dolorosa a noite quando a insatisfação nos assombra os sonhos.
Sorte dos que não pensam e não questionam
Felizes os que se sentem completos.








08 novembro, 2012

Ainda



Ainda se cruzam nos corredores durante o dia
entre encontrões de vultos apressados e barulhentos
Raspam os olhos um no outro, sedentos,
Incomodados.
Ironicamente, trocam palavras automáticas de cortesia
- "Bom dia!" - esboçam sorrisos plásticos, ensaiados
Perguntam sem esperar resposta - Tudo bem?"
E continuam o seu caminho, sem ouvir ninguém.

"Ainda mexes comigo"
Grita num gemido mudo, dormente
enquanto a pele arrepiada recorda sequiosa
o perfume
o calor do seu corpo.
Quer abraça-lo agora, dizer algo diferente
mas, mais uma vez, não consegue.

Ele não recua, orgulhoso,persistente
continua o caminho programado
e desaparece num elevador de repente
Já sozinho,
respira aliviado, longe do perigo
Encolhe os ombros resignado,
Admite confuso:"Ainda mexes comigo".


02 novembro, 2012

Caçadora de sonhos




Olhando para trás,
Talvez eu tenho sido sempre uma caçadora de sonhos.
Gigantes e impossíveis.
Talvez tenha perseguido fantasmas toda a minha vida
Numa teimosia cega, numa fé desmedida.

Reconheço que não fui, por um único instante, sensata.
Profeta de histórias felizes, ilusões audazes.
Corri de forma compulsiva e olhos vendados, em busca do inusitado.
Nunca sobe viver tranquila apenas num lado da estrada, constante.
Agradam-me as alterações repentinas do vento,
As bifurcações imprevistas, a velocidade ultrapassada.

Olhando para trás,
Tenho sido coleccionadora de memórias invisíveis.
Como o sorriso dos teus olhos, o calor dos teus braços
A tua voz a dissertar todos os nossos impossíveis.
Sei que reencontrar-te foi o meu sonho mais masoquista,
Delírio puro, intoxicante.
Sempre fui uma caçadora de sonhos,
E, no limiar da loucura, talvez eu ainda espere por ti, na berma da estrada,
no meu sonho mais errante.

08 outubro, 2012

Apneia



Deixa-me falar sobre o limite sensível.
O momento em que os meus olhos cruzam os teus desprevenidos. Entregam-se, prisioneiros de um desejo antigo, incontrolável.
As palavras, mudas, refugiam-se do perigo num silêncio imperturbável.
Tu avanças, eu não recuo.
Numa espécie de hipnotismo, amarras-me. Perco a orientação, o controlo da estrada.
O piso entre nós é curto, escorregadio, a inclinação é voraz.
Derrapo instintivamente no teu colo assustada.
Envolvem-me as tuas mãos, os teus braços.
Inalo o aroma do teu perfume, o calor da respiração acelerada.
Os teus olhos deambulam agora perdidos nos meus lábios trémulos, inseguros.
Continuo ali, confusa, paralisada.
Tu avanças, eu não recuo.
Porque os teus olhos prendem-me, ou eu prendo-me nos teus olhos extasiada.
Este é o meu limite sensível. Uma apneia da realidade.
Tenho evitado pensar em ti. E instintivamente sonhar-te.


21 setembro, 2012

Falta

Talvez seja mesmo assim que te sonho.
Apareces num fim de tarde apagado e sentas-te em silêncio ao meu lado, enquanto as ondas se espreguiçam na areia e riem de nós baixinho.
Vens com duas cervejas na mão, sorris embaraçado e brindamos no ar ao imenso infinito.

Depois cercas-me as costas sem eu notar, os teus braços amarram-me, quentes, protegendo-me do vazio. Conforto-me neles deliciada, a pele sucumbe arrepiada e quero acreditar que é do frio.
No silêncio gelado, rompem assustadas as palavras,surgem tremidas
- "o que sinto falta?" pergunto num sibilo contido.
Cheiras-me o cabelo, beijas-me o pescoço e só então respondes sem hesitar ao meu ouvido
- "cumplicidade".

Recolho o corpo inteiro nos teus braços e sonho, dolorosamente, ficar ali contigo.



05 setembro, 2012

Consciência

Há dias abandonados.
Povoados de sofrimento e inquietação. Um fantasma, uma casa assombrada. Onde as paredes estremecem. O chão de madeira gasta range, as luzes apagam-se fúnebres no velório da solidão.
Até a chama das velas se encolhe ante o peito que arde em violência, irado, derrama uma lava brilhante de vulcão.
O espectro moribundo, habita a gaveta da memória. Um espaço minúsculo trancado, revolto, desarrumado na incompreensível anarquia da emoção.
Atrevo-me a dar-lhe um rosto, um corpo e até um nome. Uma forma de andar desengonçada, uma voz aveludada meiga. Pormenores que tatuam a alma abandonada. Resquícios do tempo que passou por mim apressado, trilhos distantes em quilómetros de desilusão. Reconheço, entre a surpresa e a dor, que sou eu mesma, o fantasma. Ele possui-me, habita-me numa estranha calma. Sorri.
São dias aprisionados, na insuportável realidade. Acordo com a lembrança dolorosamente clara, da vida que ainda não vivi.

(um repost meu antigo, remendado, remexido, ficou igual...)

12 agosto, 2012

Fagulhas





É como se da minha cabeça só saltassem perguntas. Como fagulhas de um lume que não se extingue. Queimam quando raspam a pele fria e eu sacudo-as por instinto. Elas vão ficando espalhadas pelo caminho, acesas, com as pontas a arder. Assim são as perguntas, inflamáveis, por responder.
É isto que quero da vida? Seria feliz de outra forma? 
Fecho-me no meu casulo. Não encontro respostas.
Olho de relance o corpo moreno, torneado, perfeito. Ainda me deslumbro em cada pedaço que percorro de prazer e desejo. O aroma da pele suave. Esse corpo perfeito. Aqui à minha frente, ao meu lado, ao meu alcance. Num desencontro perpétuo de companhia, em monólogos de conversas vãs. É o que tenho. O corpo, apenas. A cumplicidade, tão perto e tão distante.


03 agosto, 2012

Conversar

Sinto falta de conversar. É um vazio medonho, profundo. Rasgo as paredes do cérebro com as palavras que sucumbem no escuro. Não as consigo evitar, elas rompem descontroladas em monólogos loucos, frustados. Sacodem-me o corpo letárgico, instalam-se numa fúria doentia. Essas mesmo, as palavras que trocávamos viciados noite e dia. Procuram uma porta, um caminho, trepam o parapeito da janela e lá ao longe, na noite fria, a lua redonda, brilhante, parece que lhes sussurra baixinho. Talvez seja ilusão da minha mente, as vozes que escuto nas lembranças de outros dias.
O tempo passa rápido, tão rápido, e eu ainda te trago comigo. Habitas-me de alguma forma incompreensível. Não me perco a pensar nisso. Apenas perco-me em memórias, das conversas deliciosas, intermináveis, que já não tenho contigo. Há tanta coisa amarrada no meu peito, duvidas que me assombram, medos que me gritam. Continuo insegura, eterna insatisfeita. Tenho um orgulho sufocante, sabes disso. Mas faltas-me, admito, bastante. Também o teu beijo, o olhar, a cumplicidade, o carinho.
Hoje olhei para este chapéu de palha, o mesmo de outros tempos, que dizias conseguir fazer sozinho. Olhei para ele, demoradamente, e senti tantas saudades de conversar contigo.

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23 julho, 2012

Memórias invisíveis

Hoje apetece-me sonhar contigo.
Com tudo o que não fizemos mas vivemos em palavras embriagadas de loucura. Talvez por encantamento, falámos tanto. Quase tudo. De tal forma que as palavras envenenadas, de tão sofregamente desejadas, preencheram-me de memórias invisíveis. De beijos sedentos, molhados, abraços despidos, corpos suados, tímidos gemidos. Só nós dois. Sem horas de partir, sem pressa, sem depois. Eternos fantasmas do tempo, em busca de abrigo. É assim que te lembro, do que não tive. Já é tarde, estou cansada. Vou fechar os olhos agora e levo-te comigo.

Espaço

Então está combinado. Ficamos eternamente os três. Assim, juntos, lado a lado. Tu ficas aí, eu fico aqui. Ele fica no meio. Sempre no meio, para ocupar o espaço. O espaço que não se mede em metros ou centímetros. É um espaço disforme. Escuro. Oco. Não sei se ele me assusta sempre que se instala no espaço entre nós de mansinho. Talvez já me tenha habituado a ele. À sua estranha companhia. Recebo-o sempre angustiada, para que depois ele me ampare com carinho. Lentamente abraço-o, limpo as lágrimas e sorrio. Deixo-me ficar assim, tão perto e tão distante, a contemplar o vazio. Eu deste lado, tu do outro. No meio, o silêncio que nos ocupa.

06 julho, 2012

Onde estão?

Onde estão as palavras quando não te vejo?
Pergunto se estarão escondidas num qualquer buraco do mundo. Um lugar inacessível, longínquo.
"Onde estão as palavras?" pergunto-me. E o silêncio, incómodo, tortura-me, arranca-me a pele a sangue frio, cobre-me de dor.

Há dias em que sonho. Sonho que sussurras baixinho. A tua respiração quente, como se estivesses mesmo junto às minhas costas, amparasses o meu corpo trémulo no escuro do vazio. Porque a ausência é sempre vazio, e o vazio, sempre escuro e profundo.
Sinto-te. Talvez seja esse o poder das palavras imaginadas. Ultrapassam a audição e envolvem nelas todos os outros sentidos.

É assim que me falas em tardes como esta. Encosto-me para trás e aperto os joelhos contra o peito. Olho em frente e vejo-te com a cegueira do costume. Nem sempre encontro as palavras, aquelas que me beijam o rosto molhado pelas lágrimas que correm até à boca,salgadas. Porque as lágrimas são sempre salgadas, e o teu beijo doce.

Por vezes encontro-as naquele barco que navega lá ao fundo à deriva,para trás e para a frente, sem rumo ou destino. "Perdidas" penso. As palavras estão perdidas. Não conseguem voltar a terra, encontrar-se comigo. Persigo-as desesperada com o olhar e penso se estarão apenas indecisas.Talvez confusas. É então que as chamo para se sentarem comigo neste banco de madeira ressequida, sozinho. São assim os bancos de rua, sempre sozinhos. Como as palavras que me chegam aos ouvidos. Carentes, pedintes. Geladas, procuram no meu colo abrigo. Por instinto abraço-as junto ao peito e deixo que o calor entre nós derreta a distância das lembranças.

As palavras vão então surgindo aos soluços, tímidas. Envoltas em sonhos e fantasias. Embarco nelas numa espécie de sonambulismo. Depois vejo-as partir novamente, angustiadas, devagar. Ao mesmo tempo que o sol funde-se no horizonte em mil e uma cores entre o laranja e o púrpura.

"Único" penso. "És único" digo.
Mas tu já não ouves e as palavras vagueiam dispersas na aragem fria do destino.
Partes, lentamente, e levas as palavras eternas contigo. Porque as partidas são sempre lentas, demasiado lentas. E o destino, corrosivo.

21 junho, 2012

Pessoas-Verão

Há pessoas-verão. Capazes de nos aquecer o corpo mesmo à distância. Tornar azul o céu cinzento de nuvens, rasgar a chuva num colorido arco-íris gigante.
Não sei se essas pessoas trazem com elas o verão, se o transpiram na pele ou o carregam no sangue. Sei que contagiam a nossa alma fria, carente, com um sorriso dourado brilhante. E é com palavras quentes que nos embalam, percorrem e incendeiam. Para depois nos refrescarem com o sal do desejo. Despem os sentidos ali mesmo na areia, seduzidos pelo aroma da maresia, viciados no calor do seu beijo.




18 junho, 2012

look up




Disse-lhe um dia que a felicidade era como um lugar perdido no outro lado do arco-íris. 
Um dia encontrava o caminho, chegaria a sua vez. Era como um lugar encantado, entre o sol e a chuva, nem sempre se via com nitidez. Mas era preciso acreditar nele com fé, olhar para cima, sempre. Com paciência e atenção. Seguir  persistente, o rasto infinito de cores, sem perder a direcção. E nesse percurso difícil, onde a luz do tempo encandeia a visão, manter-se firme, sem medo. Enfrentar qualquer perigo, sem olhar para o chão.


11 junho, 2012

Lugar do coração




Perguntas-me se acredito em destino. Eu abano a cabeça, num movimento instintivo que não vês, e digo-te que acredito. No nosso destino. Nos lugares traçados por rotas incertas, sem data marcada, sem coordenadas de tempo e de espaço. Assim é o nosso mundo aos meus olhos, um oásis perdido no imenso deserto.
«Precisava ouvir-te» dizes, como se as palavras tocassem. Cobrissem o corpo sedento dos lábios macios, contagiassem a pele com o teu cheiro. E naquele instante em que as palavras me abraçam, num tom quente aveludado do teu beijo, sinto que estás mesmo aqui a meu lado, parece que te vejo. Nuns minutos que nos seguram as vidas, onde as promessas são meros desejos, a vida pára na tua companhia e eu fraquejo. Porque és tu que me enfeitiças a alma, que me quebras o peito. Em qualquer parte do globo onde estejas, não há limites para a distância. És tu, sempre tu desse lado da estrada onde não te alcanço. Como se te buscasse de olhos vendados numa cegueira constante. E tu, sonhador incorrigível, acreditas nesse nosso destino plantado no topo de uma montanha. Onde habitam todos os sonhos impossíveis, onde um dia nos encontramos. Nesse lugar escondido do mapa, tu dizes que me esperas porque me amas.



05 junho, 2012

quando as palavras falham



Acho que é mesmo assim, quando falham as palavras.
Sentam-se sozinhas, num banco abandonado, à beira de um precipício. Ficam ali, num estado híbrido entre a morte e a vida. Arrastam-se cansadas da realidade, alcoolizadas de orgulho.
Quando as palavras falham, falha também os gestos, a vontade, a emoção. Inanimadas, vegetativas. Perdem a cor, desbotada por golpes sangrentos da alma ferida. Derramam verdades incómodas, tatuam decisões ridículas. Masoquistas perpetuam a dor.
Assim são as palavras quando falham. Esdrúxulas, insanas, ambíguas. Escorregam por caminhos sinuosos, escarpados, que lhes rasga a pele fria. Perdem-se em pensamentos desconexos, contraditórios, imprevisíveis. Dementes, cegam o riso, sufocam o instinto. Num medo persistente que as afasta do que consideram perigo. Isolam-se, barricam-se, num cómodo vazio, onde o claro e o escuro não se distinguem. Enquanto a vida acontece ao virar de cada esquina e as palavras gastas, enclausuradas, se esgrimem em monólogos prolixos.
Acho que é mesmo assim, largamos o corpo num banco, sozinho, quando as palavras falham sem sentido.





29 maio, 2012

Pssstt...


Pssstt, não abras os olhos.
Digo enquanto afago o teu rosto e sussurro-te ao ouvido "Bom dia Amor".
Sou eu quem te acorda assim, bem de mansinho. Percorro com a boca o teu pescoço, deslizo pela tua barba rala que me arranha. Subo desenfreada por ti acima, como num labirinto, onde te encontro sozinho, fugido do mundo. Perdidos, entre a magia do sonho, eu não te confundo. E espero, num golpe de sorte, que reajas ao meu toque, sem que a luz do dia agrida os nossos corpos aqui despidos de rotina. Amantes ébrios em momentos fugazes de desejo, incontrolado, insano. Percorro-te e beijo-te. Um beijo molhado, onde te seduzo e saboreio, trinco levemente o teu lábio, desenho-o suavemente com a língua. Quero-te agora, neste instante. Com a fome desvairada de um pedinte, anseio a tua pele quente, onde me encaixas, num puzzle de duas peças, perfeito. Puxas-me com firmeza as pernas nuas que te enlaçam, agarro-te com as mãos o rosto. Entre nós escorre saliva, arde suor entre os nossos corpos.
Pssstt, não abras os olhos.
Sente o aroma do desejo.




23 maio, 2012

Instante



Perguntas-me «quando?» E não tenho resposta. O tempo é uma medida ingrata, distorcida.
Digo-te «agora», «este instante», enquanto te perdes num labirinto escuro, numa espiral de contradições. Em círculos vives a cegueira do imprevisível, a ansiedade do querer e não poder. Perdes-te de juízo, dúvidas e complicações. Perdes-te e eu já não te encontro, não te vejo, não te desejo. No instante nosso que passou sem perceberes. No olhar que te despiu e fugiu de raspão, no toque da mão que arrepiou o corpo de prazer, no sorriso que te beija com timidez. Passou o nosso instante mais uma vez. E as perguntas persistem por entre o encaixe perfeito dos corpos que se descobrem num sonho, repetitivo, meu e teu. Surge sempre "o depois" que persegues sôfrego, como um muro alto que nos separa e afasta, onde embato estilhaçada e desisto de te procurar. Onde somos inevitavelmente dois. Perde-se o momento em que te quero, sempre o agora, neste instante. Afogado em perguntas que não respondo, não me perguntes, não me interessa, o que vem depois.


15 maio, 2012

É aqui


"É aqui que ficam as memórias", repetia enquanto os pés raspavam a terra barrenta em círculos.
Neste lugar abandonado, escondido do mundo, onde me encontro comigo. É para aqui que as trago, arrastadas, a ferros grossos e cordas firmes. Rasgam-me a pele fina que sangra agora em carne viva. 
É aqui que ficam, largadas neste banco esquecido, as recordações mais apetecidas. E aqui despeço-me delas, num abraço dos meus braços, afago o meu pescoço, mordo o lábio, percorro-o com a língua. Saboreio, por segundos de loucura, o desejo antigo de ter-te comigo. A tua voz surge de repente ao meu ouvido, arrepia-me, depois acalma-me. Deixo-me embalar embriagada numa espécie de sonambulismo. 
Acordo. Acordo sempre neste lugar perdido, um beco escuro no cemitério de risos. E sei que é este o lugar para abortar a insatisfação a frio, sem anestesia, fico por tempo indefinido.
É aqui que apago os momentos dolorosos de desejo amarrado e contido, por debaixo de uma lâmpada enferrujada e fundida. Onde não vejo absolutamente nada. Não preciso de qualquer sentido. É na escuridão de uma morte voluntária e premeditada, que jazem inquietas todas memórias do que é sonhado e não é vivido.




14 maio, 2012

Direcção

Há alturas em que, por mais voltas que se dê, todas as direcções significam o mesmo: longe.

11 maio, 2012

Luto



Talvez as nossas palavras estejam gastas. Ou perderam-se, umas das outras, num qualquer ponto do universo. Talvez tu já não tenhas nada para me dizer, apenas respostas fugazes, para me acalmar e satisfazer. Mas eu não quero respostas, nem mesmo às perguntas dispersas que faço. Porque nem são perguntas, são palavras soltas no ar, como se pensasse alto. Não são respostas que procuro, entre tudo o que te digo, preciso tão somente de conversar um bocado.
Hoje reconheço, vencida, a  morte das nossas palavras, cúmplices, que transbordavam vida. Entre a fantasia e a realidade. Amava as palavras que trocavas comigo, cada instante de segredo, cada momento de desassossego, cada soluço de verdade. Amava-te assim despido, no silêncio das certezas, que estavas tão perto de mim, tão dentro quanto a nossa vontade. Essa intimidade conversada, num discurso directo, sem juízos, regras, medos ou maldades. Do diálogo viciante um no outro, surgiu um silêncio de dúvidas e ambiguidades.
Hoje travo monólogos contigo, a que respondes somente, talvez por cortesia do que restou da amizade. Respondes somente, numa espécie de sacrifício, sem sentires necessidade. Respondes, mas as perguntas já não estão comigo. Não faço planos de aprisionamentos, as palavras são livres, o vento levará as minhas para onde sentirem o aconchego da cumplicidade.


06 maio, 2012

Instantes


Somos instantes. Pequenos, minúsculos. 
Somos o segundo. Um crepúsculo de tempo, de espaço. Arco-íris de emoções incertas num esboçar de riso do sol. Relâmpagos brilhantes, fugazes, em céu carregado de negro e lilás. 
Amamos intensamente. Mudamos. Crescemos. Esquecemos. Tudo é efémero, volátil. O que procuramos está num instante futuro ou passado. Nunca encontramos. O momento é ocasião e impasse. Vivemos a tela que pintamos sobre tintas ressequidas, sobre sombras esborratadas. E na transgressão do impossível, agarramos um rasgo de prazer momentâneo. Pincelamos a cores garridas o sangue da paixão que nos queima. Para no instante seguinte, em que a perseguimos, embatermos num muro alto, gigante. A queda no chão é um instante. Olhamos à volta e nada faz sentido, tudo é novo e diferente. Há a inevitáve partida, num corpo dorido de mudança. Confuso, talvez perdido. 
Não acredito no caminho contínuo, não confio na segurança. Em convenções e regras permanentes. Nós somos instantes.
Não me venham falar de verdade! Sou inteira aqui e agora. Tudo o resto é mistério. 


03 maio, 2012

Faz as malas!



Faz as malas! Fugimos hoje.
Ou esquece as malas, não precisamos delas para nada.
Fugimos só, com a roupa que temos no corpo.
Para onde? Não me interessa. Como? Também não. Apenas quero fugir, levantar voo sem rumo, largar-me ao vento sem destino, navegar sem direcção. Quero fugir desta vida, desta coisa nenhuma que falam por aqui. Diz-me tão pouco, e exige-me tanto, eu sou estranha nesta terra e só queria mesmo era... fugir.
Quero um lugar onde partilhe um vinho numa gargalhada, um abraço num acorde de viola, um beijo molhado que desliza numa dança e explode de paixão junto à lareira.
Vá, fugimos hoje!


27 abril, 2012

A direito

"Para quê dar mil voltas? O mundo é que as dá, não é? Eu vou a direito. (...)
A vida só acaba quando se deixa de viver."
Federico Moccia

23 abril, 2012

Una vez

"Solo se vive una vez"

A música ardia na sala ritmos frenéticos latinos. Entre a multidão agitada, não foram precisas palavras. Apenas o olhar. Olhos verdes penetrantes que invadiram no escuro, atravessaram o corpo, puxaram-no firme, despiram-no de receio. Enrolaram inesperadamente num deslizar constante de desejo. Envolveram num beijo que disparou o bombear do sangue, o batimento cardíaco. Os lábios que subiam o pescoço, apanhavam os meus desprevenidos, enquanto as mãos percorriam a cintura, o delinear das ancas, as minhas acompanhavam a forma do teu corpo, cada centímetro..Os corpos embalados naquela dança, possuídos, enquanto cantavas no meu ouvido.
Não foram precisas palavras. Há momentos espontâneos e simples, vividos apenas, intensamente, sem qualquer assunto.
Me quieres? Te quiero mucho.

17 abril, 2012

entre ferros


Por vezes vejo o céu, lá ao fundo, aprisionado. 
O imenso azul trespassado por ferro escuro a rasgar nuvens. 
Apodera-se de mim a tristeza da consciência, do que se perde e não volta mais. Não me apetece falar, sorrir ou escrever. É um estado catatónico, de inacção, inércia, rigidez. 
Há um brilho lá fora, eu sei, há um brilho que me chama incessantemente, mas eu não consigo ver. Não por agora. 
Talvez ainda me aperte a memória da cumplicidade vivida, ou me doa a falta da tua companhia, agora sonhada. Sinto falta de conversar contigo. O abraço que me sustentava, o vazio que me preenchias. Sinto falta desse abrigo onde me refugiava todos os dias. 
Há tanto, mas tanto, que ainda tenho para dizer amordaçado, mas as forças esmorecem com o cair da noite, e as estrelas hipnotizam o pensamento, o raciocínio. E nada faz sentido. 
Deixo-me estar aqui, isolada, neste lugar longínquo, como condenada. Vejo o céu a brilhar lá fora, sem perceber que sou eu própria que estou aprisionada. 
Falta-me o ar das palavras que me beijavas ao ouvido.



14 abril, 2012

centímetros



Então fica assim.
Temos a nossa distância de segurança. 
São estes os centímetros híbridos que nos separam. Tu e eu.
Um em frente ao outro na linha ténue, invisível, que traçámos a dois. 
Parados. Os corpos estremecem, os olhares refugiam-se embaraçados.
A boca seca, sedenta de um beijo molhado.
Passo a língua pelos lábios, enquanto os meus olhos perdem-se nos teus quando falas.
Mas as palavras soam ao fundo desconexas. Já não te oiço, o chão treme e a cabeça voa. 
Não me consigo concentrar. Desculpa. 
Talvez porque estamos perto, demasiado perto. E ainda assim, sei que não te posso tocar.
Confundes-me sempre a centímetros de distância, talvez seja o teu cheiro. Ou o teu olhar.
Enquanto me contas algo que não perceboos teus olhos sorriem. Sorriem e e só esse sorriso que vejo.
Indiferentes à multidão que embate nos nossos corpos, imóveis, a escassos centímetros, encontram-se inquietos os nossos olhos, percorrem impacientes as nossas bocas.
A imaginação atordoa-me numa espécie de falta de ar. Quase sufoco. Com se a vida parasse naquele instante insanoDebato-me comigo, enfurecida, na luta antiga, diabólica, entre a razão e desejo.
Resisto.
São incómodos os centímetros híbridos que nos separam de um beijo.


13 abril, 2012

Paraíso


«Paraíso
Deixa ficar comigo a madrugada
Para que a luz do sol me não constranja.
Numa taça da sombra estilhaçada,
Deita sumo da lua e da laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um porto
Onde eu oiça o estertor de uma gaivota...
Crepita, em redor, o mar de Agosto...
E o outro cheio, o teu, à minha volta!
Depois podes partir. Só te aconselho
Que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençois o lume do teu peito...
Podes partir, de nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso » 
David Mourão Ferreira


11 abril, 2012

Se...




Se pudesse abraçar-te sempre que penso em ti,
desmaiava nos teus braços em silêncio. Embalavas-me, num sopro, a alma inquieta. E ao nosso redor nada existia. Apenas teu corpo ancorava o meu, indefeso, que a ti se entregava, rendido.

Se pudesse ver-te sempre que os meus olhos procuram os teus no infinito,
encontrava-te na linha invisível que separa o prazer da dor. Encontravas-me. Perdida num cruzamento, à beira da estrada, onde os olhares tocavam-se sofridos.

Se pudesse beijar-te sempre que os teus lábios invadem os meus em memórias vivas.
Trinco levemente o lábio, molho-o com a língua. Perdia-me agora na tua boca insaciável, que devora o ritmo monótono do meu dia. Amava-te, extasiada, no limiar híbrido entre a realidade e a fantasia.

Se pudesse arrancar-te da imaginação por um instante,
e segurar no rosto o meu sorriso de ti, por tempo indefinido. Deixava escorrer do peito a lucidez fúnebre da ausência, o suor do medo irascível. No improvável desse instante, se pudesse ter-te dava-te tudo, tudo aquilo que não consigo.




10 abril, 2012

Coisas que me conquistam


[ter esta surpresa pela manhã]


«Nunca é agora entre nós, é sempre até Domingo, até sexta, até terça, até ao próximo mês, até para o ano, mas evitamos cuidadosamente enfrentar-nos, temos medo uns dos outros, o medo do que sentimos uns pelos outros, medo de dizer Gosto de ti
in Explicação dos Pássaros de António Lobo Antunes







09 abril, 2012

al menos


Que a cada manhã acorde com vontade de amar.
Abraçar-te descontroladamente, atirar-te ao chão. Espreguiçar-me pelo areal extenso do teu corpo e rebentar por fim num beijo intenso e salgado. Deixar-te o dia inteiro com a sede dos meus lábios, para que voltes ao fim do dia sequioso. Depois, lançar-te a teia dos meus braços, seduzir-te num olhar incendiado e no silêncio do meu sorriso enfeitiçar-te, e levar-te para o meu refúgio.



07 abril, 2012

Momentos


«Viver é não pensar nisso»

Tenho para mim, que planear demasiado é estrangular o momento.
É resumi-lo a um tempo, um espaço e acção. Amarra-lo. Sufoca-lo. 
É pensar nos actos antes de agir, nas sensações antes de sentir. É antecipar problemas, erros e discussões, enfrentar o abismo do depois. Sofrer pelo que não aconteceu.
Há uma magia inebriante no acontecer inesperado, na surpresa do instante, no espanto da novidade.
É como correr descontrolado de olhos vendados. Entre o medo do embate, há uma sensação inconsciente que se chama liberdade. Sente-se a vida a fervilhar por dentro, numa ebulição atordoante.
Percebo, com o passar do tempo, que cada vez gosto mais dos momentos surpreendentes, sem regras, sem justificação, sem planos. Gosto de vive-los simplesmente. Não pensar no porquê ou por quanto tempo. Se voltarão a repetir-se ou se os guardarei para sempre na gaveta das memórias. 
Tenho para mim, que os melhores momentos são saboreados na euforia da incerteza, na intensidade do agora e na ignorância absoluta do que existirá amanhã.




04 abril, 2012

Coisas que gosto



O chocolate quente, e companhia!

Espero-te



Sabes, estou perdida…
Como se as pernas não pertencessem ao tronco e a cabeça não soubesse o que coordenar. Os braços gesticulam cegos e da boca brotam, insaciáveis, palavras soltas que não sei de onde vieram, nem o que querem dizer. Depois são as pernas que sacodem o corpo inerte, levam-me numa espécie de sonambulismo para os lugares onde me esperam.
É uma sensação estranha, dormente.
Há sempre alguém que me espera. Alguém que tem algo para me dar, algo para me dizer. 
Esperam-me. Ou esperam de mim sem eu perceber.
Pergunto-me, no embalar do vento, se eu também espero alguém.
Não sei onde estás, mas talvez te espere.
No limite do absurdo, sacudo o tempo da ausência para refugiar-me no conforto do teu colo. O lugar seguro onde eu te espero. Lá, na cabana da praia, numa noite em que a chuva cai violenta. Bebemos o vinho tinto derramado pelos nossos corpos, despojados no chão. A minha boca deleita-se a percorrer suavemente o teu pescoço, enquanto as mãos tacteiam no escuro, procuram sôfregas o ritmo certo. 
Não sei onde estás, mas espero-te.


03 abril, 2012

à nossa volta


À nossa volta, o mundo muda de cor.
Um clarão de luz preenche o dia que se faz cinzento.
Lá fora os carros buzinam, as pessoas correm apressadas sem direcção. É a vida que se esvai num trovejar frio e gasto de ilusão.
Entre nós, há o momento estático que nos prende.
No calor do nosso encontro, ouso chamar-te "amor".
Mesmo que mal te conheça, de ti apenas saiba o teu olhar, o teu sorriso.
Não me importa que contem o tempo entre nós dois.
O meu corpo e o teu colidiram aqui, agora, neste abrigo. Basta-me.
Chove negro lá fora e eu tenho-te comigo.
À nossa volta, o mundo muda de cor. 

30 março, 2012

Metamorfose




“A alma é uma borboleta... há um instante em que uma voz nos diz que chegou o momento de uma grande metamorfose...”
Rubem Alves

Inunda-me

Como um dilúvio arrastou-me, numa corrente forte, indestrutível. Sem dar conta entreguei-me, deixei-me ir à deriva. Há um prazer incompreensível sempre que me largo no desconhecido. Não receio o escuro, o frio ou o piso escorregadio. Rejeito qualquer conceito de perigo e respiro inebriada o vento que me rasga o rosto, a chuva que me escorre pelo cabelo, a intensidade com que vida pulsa em mim naquele instante.
Estavas ali, à minha espera, do outro lado da margem. Não hesitei. Inundei-me de ti.





29 março, 2012

Equilíbrio

Como se a felicidade estivesse fechada dentro de potes de vidro transparente, arrumados num móvel alto.
É preciso uma escada, uma corda ou um banco para os alcançar.
É preciso subir sem medo de olhar para baixo, esticar os braços trémulos, balançar o corpo relutante. Sem hesitar, segurar a prateleira com firmeza, mesmo que ela abane, que os pés instáveis não toquem o chão, não pensar em mais nada. Apenas naquela felicidade ali fechada, à espera do equilíbrio certo para lá chegar.



28 março, 2012

Ainda

Ainda não aprendi a encontrar-te
A partilhar o mesmo espaço.
O cubículo do elevador, a distância da secretária, a largura do corredor.
Vejo que o tempo não dilui o que ficou congelado
e os olhos, baços, ainda embatem enfurecidos
e os lábios, sedentos, ainda sentem, como se beijassem.
Espasmos que nos aprisionam em segundos intermináveis
Imóvel, não encontro o gesto certo, a palavra exacta.
Não importa. Há o silêncio, asfixiante, que nos arrasta.
Eu não aprendi a encontrar-te.
Ainda.