15 novembro, 2013

Por aí



Encontra-me. 
Não digas nada. As palavras estão gastas, carregadas de dúvidas e indecisões. 
Encontra-me e Beija-me. 
Loucamente. Agarra-me o corpo. Selvagem. Doce.
Um momento que seja, 
Ama-me. 

11 novembro, 2013

entre nós





Entre nós...
Existe o tempo rasgado por sonhos escondidos
e desejos secretos, abafados. 
Palavras desertas, espalhadas entre as almofadas desarrumadas, sussurros, gemidos suados.
Existem cores vivas, que brilham num inverno frio e apagado,
e o sorriso contagiante, que abraça o corpo inerte e cansado.
Entre nós, 
O mundo em redor não existe, não temos chão, céu, nem uma linha no horizonte para nos guiar.
Apenas o espaço apertado entre meu olhar no teu, entre a minha boca e a tua.
Entre nós
Existe um silêncio quebrado pelo compasso acelerado do peito e o arrepiar assustado da pele sedenta, nua.
Entre nós 
existe tudo o que secretamente possa ser inventado, uma viagem sem regresso, numa noite a teu lado.

05 novembro, 2013

18 outubro, 2013

Quando quiseres




Ama-me.
Não precisas dizer mais nada.
Pode ser amanha de manha, na sexta ao final da tarde ou na próxima semana. Se preferires, pode ser daqui a um mês, um ano se for preciso, ou ainda hoje, se me quiseres. 
Mas ama-me, um momento que seja, intensamente.
Sem a pressa do compasso das horas, ou o ritmo frenético dos minutos que nos arrasta confusos, no escuro.  Enquanto o bombear do sangue, quente, nos percorre o corpo frágil, moribundo. Dá-me vida. Tira-me o fôlego.
Nesse instante, sei que vou te amar na eternidade do segundo que nos resta. Desesperadamente. Na explosão do desejo, sem te avisar. 
Ama-me, quando quiseres. Sem hora marcada, sem qualquer explicação.
Ama-me, apenas.
Só porque te amo.
Só porque me queres amar.

03 outubro, 2013

braço de ferro



Podia ser sempre assim entre os dois - Um braço de ferro comandado de orgulho e insatisfação.
Um silêncio oco, asfixiado, moribundo. Vazio de emoção.
Cruzam-se. E prendem-se repetidamente um no outro.No frio do corredor estreito, no barulho das vozes do café, no passeio gasto da rua, no cubículo apertado do elevador. Prendem-se os olhos mutuamente, e naufragam num mar profundo, sem respirar. Uma apneia que invade o corpo inteiro, entorpecido, recordando memórias incompletas que não consegue apagar. Cruzam-se, e ainda sufocam as palavras enterradas.Interditas. Cada um guardou, para si, as que mais podem magoar. Raspam-se e estremecem. Soltam um aceno esquivo, um cumprimento banal. Engolem em seco, e fingem tão amargamente não reparar.
Depois.Os olhos dela ainda vagueiam nas costas largas quando ele se afasta. Ele ainda persegue o ondular do seu cabelo e a forma descontraída de andar.
Podia ser sempre assim entre os dois - Um braço de ferro mudo, movido com a força do olhar.

26 setembro, 2013

Tudo


Ao fim deste tempo todo, continuas comigo.
Numa distância que não separa. Numa cegueira que não esquece ou apaga. Cada contorno do teu rosto, cada rasgo do teu olhar sorrindo.
Continuas aqui, vagueando pela corrente que nos arrasta, sem rumo. Apenas tu, sem dinheiro, casa ou trabalho, sem nada. Abandonado em mim, por todo o lado.
E há dias em que te vejo numa qualquer esquina por onde passo, e sinto no meu pescoço a tua respiração quente no vazio de gente que me circunda. Outros dias afagas-me o rosto e abraças-me, como se me enrolasses no teu casulo mágico, e oiço, no silêncio em que adormeço, a tua voz rouca, numa calma melodia.
Continuas em mim, por mais que o tempo insista em fugir do nosso alcance e o destino seja uma palavra ingrata. Distorcida. 
Há pessoas que não têm nada, não querem nada.
Há pessoas que são tudo.


19 setembro, 2013

Talvez

 
Hoje a cama acordou vazia.
O cheiro da tua pele ainda se sentia, espalhado nos lençóis impecavelmente intactos. A almofada fria, rígida, reclamava toda uma noite despida. O calor do teu corpo, a forma como desarruma os lençóis e os amassa. 
A cama acordou vazia. Estranhamente vazia, sossegada. Como se um pesadelo tivesse invadido a sua alma. Sozinha. A memória arrastou-a de volta ao passado. 
De que sentia falta?
Talvez tudo. Talvez nada. 


12 setembro, 2013

Esta noite

Que me ame.
Sinto falta que me ame intensamente. Agarre-me com força sequioso. Rasgue-me a boca, a roupa, percorra todo o meu corpo embriagado e o queime de desejo. Aquele gemido contido junto ao meu pescoço, a respiração quente a escorrer pelo peito, enquanto as mãos deslizam frenéticas, insatisfeitas. Puxam-me. Insanas. Num compasso alternado, rápido e depois lento. Provocando arrepios e  deleite. A pele macia, quente, inunda-me, preenche-me completamente, sufoca-me num intenso calor. Quere-me, neste momento, desesperadamente, numa explosão de prazer, e amor. Abraça-me extenuado, beija-me e acaricia o meu rosto.
Que me ame, intensamente. É disso que sinto falta esta noite.

10 setembro, 2013

entre os dois

« a mais bela ponte construída no planeta é a distância entre um olhar e outro» Mário Prata


Por vezes é mesmo assim. O meu olhar perde-se no teu à procura de respostas a perguntas que não existem. Outras, perdes-te no meu, ziguezagueando indeciso, entre palavras sobre assunto nenhum. De que falamos quando os nossos olhares se chocam despidos?
Socorro-me de frases feitas, banais, entre um pestanejar nervoso que finges não reparar. E tudo o que digo sai desenfreado, tu perguntas, eu repondo. Quase sem pensar. Porque o que penso no meu íntimo, nunca digo. Fica sempre entalado entre um olá e um adeus, adiado para um depois, que nunca irá chegar.
Normalmente é assim entre nós dois. O tempo corre-nos nas veias e sabemos que é cruelmente veloz. Que perdemos sempre mais um pouco, desperdiçamos cada momento que os nossos olhares se cruzam perdidos um no outro. Prendem-se. Cegos. De medo? Pergunto em surdina.
"Somos opostos", dizes-me sem rodeios, como um raio de sol que me queima a retina. Opostos, repito confusa. Pensava-nos perto. Reparo desconfortável, entre nós, uma cerca opaca e rígida.



22 agosto, 2013

memória



«O que a memória ama, fica eterno.»
Dizia-te isto no outro dia.
Eternizamos momentos, sentimentos, sensações, que nos marcaram, por um instante  que seja, ou para toda uma vida. Eternizamos mesmo que já não tenham lugar no nosso corpo, espaço no nosso dia, ou já nem façam sentido. Mas na nossa memória eles perduram num amor que não se cansa, não se gasta, não envelhece. Um amor que dura, recorda sempre com saudade e nostalgia. Puro, ama desmesuradamente, sempre daquela forma, com aquele desejo, com a mesma intensidade. E recorremos a esses momentos, instantes que sejam, sempre e sempre. Voltamos a eles com um único objectivo: voltar a amar. Voltamos para viver novamente o que nos fez feliz. Voltamos por vezes até inconscientemente, damos por nós a regressar no tempo, no espaço, a lembrar os contornos do rosto, o brilho dos olhos, o cheiro da pele, o calor dos braços, o deslizar das mãos, o sabor da boca, a entrega dos lábios, da língua. Lembramos a voz rouca, grave, suave, as palavras que nos encheram o peito, ocupavam a cabeca que fervilhava euforia, palavras que significavam tudo, e eram mesmo tudo o que queríamos ouvir. 
Era isto que eu te queria explicar, entre palavras baralhadas, que brotavam confusas, ansiosas por ser ouvidas. 
Vivo diariamente memórias tuas que amo.
E essas memórias, nunca morrem. Nada as impede. Ninguém as rouba, esconde ou tira. E essa memória de instantes que loucamente amo, vou amar sempre, sempre com a intensidade que precisar, toda a minha vida. 



29 julho, 2013

apertado



Seria sempre assim entre nós dois.
Um espaço curto, quente, apertado. Onde o ar não passa e o tempo não mede.
Um lugar isolado do ruído das gentes, das frases repetidas, desprovidas de sentido.
Um espaço apenas nosso, tão nosso, que o cobrimos com os braços, com beijos. Apertamos com firmeza junto ao peito, num nó perfeito.
E ainda assim, escapa-nos por entre os dedos que o amam, num derramar lento, quase imperceptível, indolor. Perde-se. Aquele espaço pequenino que nos aproximava, e agora afasta.
- Para sempre? - questiono-me num monólogo recorrente.
Seria sempre assim entre nós dois.



17 julho, 2013

horizonte


As palavras escorregam, teimosas. Espalham-se pelos grãos de areia quentes.
Errantes. Perdem-se. Enterram-se de orgulho.
Não há um abraço, um beijo, um olhar que reclame vida.
És agora um sonho abstracto. Intangível.
Incorpóreo nos monólogos que pulsam desenfreados na garganta, a cada instante. Converso contigo num silêncio escuro, escondido. Não sei se me escutas, alguma vez que seja, se compreendes tudo o que digo.
Trago-te a mim nos momentos dilacerantes de abandono, do mais profundo vazio. Para que me resgates da rotina asfixiante e me seduzas para o teu mundo de fantasia. E sonho, sonho bastante, com o momento, o breve instante que, por acidente, nos aproxima. Fugaz, inesperado. Fascinante. Em que me abrigo no teu peito enquanto afagas o meu rosto e me cantas ao ouvido.


03 maio, 2013

histórias inacabadas




Ao final da tarde tu chegaste. Como sempre fazias, de mansinho. Sussurraste as palavras mágicas, enquanto envolvias suavemente as minhas costas com o teu corpo firme. O calor invadia-me no silêncio dos teus braços, e a tarde escurecia na tua respiração rente ao meu pescoço. Ritmada.Inquietante. Pudesse eu amar-te ali naquele instante, derrubar-te na areia e satisfazer todas as minhas fantasias. - Pudesse eu amar-te, novamente. 
Havia um pouco de mim nas palavras perdidas. Talvez eu tivesse algo mais para te dizer no intervalo rochoso onde nos separámos. E perdemos. Por acidente? Para sempre? Não há dúvidas que durem sempre, ou decisões perfeitas e tranquilas. 
Pressentia-te. Estavas ali, naquela tarde inacabada. Precisava de acreditar verdadeiramente na tua presença, mas não conseguia. O mar batia encrespado nas rochas e o meu coração batia também acelerado, enfurecido. Pensei que o segurasses enquanto deslizavas a mão pelo meu peito, pensei que o acalmasses e o curasses de uma dor antiga. Novamente as palavras mágicas entravam nos meus ouvidos pulsando toda a corrente sanguínea. Arrepiavam-me. - Pudesse eu amar-te ali mesmo naquele instante, apoderar-me sofregamente da tua boca, invadir-te com a minha língua. Percorrer a tua pele embriagada no aroma da maresia. Olhar-te nos olhos fixamente, procurar neles o brilho com que me encadeavas, recuperar a timidez para onde fugia. 
- Pudesse eu amar-te ali, novamente, o mar ainda dormia na areia, as rochas seriam uma cama de veludo.   

27 abril, 2013

quantos queres



gostava quando me fazias quantos queres. - eu sei, não eram quantos queres. eram figuras esquisitas, com um nome ainda mais estranho, que teimavas em dizer que eram flores, elefantes e sapos.
gostava quando me enviavas musicas novas que descobrias. aquelas que dizias serem a minha cara, as brutais, como lhes chamavas, as rap que eu detestava e as dos programas americanos que seguias.
gostava de falar dos filmes que víamos, viver as personagens dos livros, partilhar falas dos diálogos que líamos. gostava de ter-te perto, sem horas, exigências ou obrigações. Arrastar-te para os programas mais loucos e descabidos que inventava, e chorar a rir das confusões.
gostava da simplicidade das conversas banais e da espontaneidade das mais disparatadas. gostava dos teus exageros fatais, o teu humor inato e as tuas criancices mais básicas. acompanhar o teu mundo, diferente do meu, como se fizesse parte dele e ele me fosse permitido.  gostava da companhia constante, da amizade sincera e do carinho com que me envolvias. gostava de estar contigo.
pudesse o coração ser de papel, ou a vida assim tão simples.


13 fevereiro, 2013

para aquecer-me


É sempre tempo de te abraçar,
dizer olá de sorriso composto, aprumado, acenar cordialmente adeus.
É sempre tempo das palavras usadas brotarem, repetidas,
num eco familiar,
permitindo um pronuncio de saudade do que não se foi,
do que não se teve e heroicamente se afogou num imenso oceano de culpas e medos.
Tempo de descobrir a razão das dúvidas, a génese do sofrimento.
Ou na incerteza, apenas acreditar cegamente no bloqueio dos sentimentos.
É sempre tempo de te abraçar, devagarinho,
invadir-te com palavras que escorregam desastradas do parapeito da janela.
Dizer-te que não sei o que espero, nem quando,
ou mesmo se esperar é o verbo conjugado na gramática dos meus sinais.
O imediato bonito e breve está gasto, confesso-te. Não me regenera o sangue coagulado nas lembranças.
Para aquecer-me é preciso tanto, é preciso mais.


08 fevereiro, 2013

Palavras suspensas


Sinto falta de conversar contigo.
Sinto falta de muita coisa entre nós, mas sobretudo de conversar contigo.
Sem regras. Sem pressas. Sem nenhum assunto específico. Libertar as palavras que trago encravadas na garganta, abafadas de incompreensão e carência. Abandonadas no escuro. Para encontrar nos teus sentidos um porto de abrigo, um lugar seguro. Enquanto falo, sem pensar, sobre as minhas verdades inteiras, os detalhes mais ridículos do mundo, tu abraças as palavras, como se fosse a tua almofada preferida, aquela que te devolve o sono mais tranquilo e profundo. Abraças e envolves as minhas palavras suspensas, em gestos meigos de carinho.
Podia mentir-te agora. Mas não consigo.
Sinto falta, tanta falta, de conversar contigo.

02 fevereiro, 2013

Felicidade


Ás vezes ela está ali mesmo ao nosso lado. Sentada no banco de jardim abandonada.
Segue-nos com os olhos, passa a mão pelo nosso cabelo e afaga-nos o rosto.
Está ali e é o aconchego do calor que sentimos, como se nos abraçasse. O sorriso cansado mas verdadeiro, a espera que tarda em ser alcançada. Está ali mesmo ao nosso lado, onde sempre esteve. Serena. Paciente.
De olhos vendados, tacteio. Procuro-a confusa, hesitante. 
É então que surges novamente, empurras os meus medos, seguras no meu peito.
No limite do impossível: reinventas-me. Ocupas-me. Desejas-me. 
Tu. És tu, a Felicidade que vejo.

26 janeiro, 2013

Vens?



Eu não sei colocar pontos finais, eu não sei acabar com algo, eu não sei excluir alguém da minha vida.”- Clarice Lispector

25 janeiro, 2013

hoje não



acordo com a estranha sensação que já não és nada.
foste tudo. antes.
agora, aqui, és nada. no presente não existes. não tens cheiro nem cor.
podias aparecer na minha frente, raspar o teu corpo no meu, e não te reconheceria.
hoje não. já não.
no agora, és nada.
aqueço os braços trémulos ao sol,
são leves, porque não te trago em mim.
hoje não.
estou feliz assim.

14 janeiro, 2013

Quase





Já quase não penso em ti.
Absorve-me a rotina, os horários, o trabalho, as gentes.
Os dias passam por mim rápidos, cíclicos, sempre iguais. Arrastam o meu corpo letárgico, com a confiança de quem sabe exactamente o que quer e a destreza de quem pode. Ultrapassam-me, apressados.
Eu tento agarra-los, mas não saio do mesmo lugar.
Há nesta correria um misto de cansaço crónico e uma calma invulgar.
Não reajo. Não me debato. Pelo contrário, encontro um conforto etéreo, viciante, nesta fragilidade, que é não pensar. Será mesmo assim frágil a felicidade?

Ainda estou aqui. Tu sabes.
E tu? Tu estás em todos os lugares por onde passo. Do outro lado da linha, no fundo do parque por onde regresso, no mar revolto que contemplo ao anoitecer. Estás lá, mas eu já não penso em ti. Ou quase.