03 dezembro, 2014

Falta de ar



Costumava falar do encontro das almas. Enquanto procurava na mudez do tempo um vestígio de mim.Perdido no meio do nada, no centro do corpo, enterrada no peito, a dor exacta, acutilante 
- A falta de ti.

Lembrava-me dos braços em redor, envoltos de riso. Os lábios quentes, ousados. Intensos. Pele arrepiada pelo sussurro que despe lentamente, sem pudor. 
Entranha-se na carne, como um veneno corrosivo, percorre a corrente sanguínea - a tua voz, calma, sedante.

Acreditava no encontro das almas. Inesperado, insólito. Que rasgava as probabilidades mais sábias. O verdadeiro elogio dos ignorantes - o encontro perfeito, de quem não procura, e se encontra sem perceber.
Enquanto os olhos ardem na distância, acompanhando a trepidação das turbinas que sacodem o corpo assustado, inerte de acção.

É quando te digo que as almas são errantes. Cegas, tacteiam no escuro, desesperadas. Correm sem direcção, sem medo, sem pensar. Carentes, alimentam-se de cada fôlego de vida. Sobrevivem, numa constante falta de ar.