30 janeiro, 2012

Fantasmas




Toda a minha vida tenho inventado fantasmas. Dou-lhes rosto, corpo, um cheiro, até uma textura de pele.
Convivo com eles diariamente, contemplo-os embriagada, abraço-os, beijo-os. Percorro-lhes o corpo imaginário, intangível.
Deixo, que se aproximem de mim lentamente. Chegam perto e amam-me. Imóvel deixo que me dispam de desejo e façam amor comigo em fantasia.
Os meus fantasmas. Aqueles que me tocam mas só eu vejo. Acompanham-me diariamente, numa espécie de não-vida, fugaz, fugidia.
Estou sempre a inventa-los, numa luta absurda, inglória, onde a realidade reina em tirania.
Eles vão e voltam, os fantasmas. Vão mudando, atropelam-se uns aos outros. Adormecem, acordam, voltam a desaparecer.
Invento-os sem dar por isso, a cada dia que passa, em cada rumo que sigo a deambular à deriva. Entre a agitação e a calma, encontro neles um qualquer ponto de equilíbrio. Desequilibrado, por ser inventado, uma bolha de ar capaz de manter-me à superfície.



26 janeiro, 2012

Sempre



Vou de costas, como sempre.  
E vejo-te ao longe a acenar. Sorrio, um sorriso forçado, triste.
Ficas cada vez mais pequeno à minha vista, mas aumentas assustadoramente dentro de mim, de tal forma sinto-me rebentar.  
Os olhos embaciam-se, numa névoa incómoda de lágrima que teima em gritar. Explodir no meu rosto inexpressivo, que impávido mergulha na paisagem indefinida que cegamente vê passar.  
Tu ficas mais uma vez lá atrás, ao fundo, encolhes os ombros e segues a tua vida em frente. Mais uma vez, perco-te de vista para trazer-te em mim. Debaixo da pele, pulsando nas veias, entranhado na carne e nos ossos, tão nítido e presente. 
"Tenho saudades tuas", dizes. "Ainda me amas?" perguntas. 
A boca seca, um nó estrangula o peito e as palavras, inseguras, ficam suspensas no ar. "Sempre", seria a resposta certa. O silêncio, possante, agarra-me de repente, impede-me de falar.  
Há pessoas que subitamente se reconhecem uma na outra. Mas perdem-se em vidas distintas, por não se conseguirem encaixar.




25 janeiro, 2012

Racionalidade

Hoje queria fazer uma ode à Racionalidade. Sim, aquela capacidade maravilhosa que nos qualifica como superiores aos demais seres vivos.

Dizem que ela chega para criar a ordem, por vezes tarde, mas sempre austera e imponente.
Estendo-lhe a passadeira vermelha e vejo-a passar por mim, majestosa. Talvez um pouco emproada, arrogante até, por tudo aquilo que consegue arrasar e destruir com a sua lógica e sensatez.

Traz nos ombros largos um manto branco de sabedoria, por cima de um vestido bordado a linhas assertivas de coerência.

Caminha sempre devagar, em passos cautelosos, prudentes. Calculando cada movimento com perícia.

Todos se chegam à frente, fazem-lhe uma vénia, admirando a sua opulência.

Ela acena faustosa, embora o sorriso não lhe transpareça no rosto, que se apresenta hirto e frio.

Nesse momento, aproxima-se dela a correr um rapaz de aspecto humilde e mente pouco brilhante. Espalhando-se aos seus pés, esbaforido, indaga-lhe a pergunta mais absurda, que só alguém com o seu básico intelecto poderia fazer:
- Qual o sabor do beijo?

A Racionalidade olha-o de cima a baixo, espantada. Reflecte um pouco, concentra-se no seu raciocínio. Ora um beijo… um beijo…
Responde-lhe finalmente irritada:
- Um beijo não tem sabor!

O rapaz olha-a com repugnância, afastando-se de imediato com compaixão:
- Lamento-a, nunca a razão poderá viver o prazer de uma emoção.


23 janeiro, 2012

Em frente




Iria por aí na mesma. Mesmo que fosse a última vez. Não hesitaria.
Resgatava o último beijo viciado na sua boca, abrigava-se pela última vez no seu colo quente, partilhava o silêncio do último abraço carente.
Sorria-lhe, enquanto os olhos escondiam a tristeza que vivia internamente. A música tocava alto, abafando a fome que sentia de toda a entrega ingénua, do desejo que lhe correu em tempos nas veias em euforia. O que se passou verdadeiramente entre a realidade e a fantasia?
Encolheu os ombros e seguiu em frente, despreocupada. Não sabia. Seguiu na mesma, por aquele caminho. Porque era nele que estranhamente encontrava a calma no agitado mar por onde se debatia. Como por sobrevivência, precisou de aceitar o inexplicável, sem questionar o evidente. Deixou para trás a estrada de espinhos que a arranhara em golpes ainda sangrentos.
Deixou para trás, porque o que quer dele nada tem de história, mas de presente. Tão simples como escutar os seus medos, afagar-lhe o rosto, o cabelo, o corpo. Tão raro como o calor dos gestos, de quem lhe despiu a alma lentamente.

20 janeiro, 2012

Querer

"O que se quer

Querer alguém, ou alguma coisa, é muito fácil. Mesmo assim, olhar e sentirmo-nos querer, sem pensar no que estamos a fazer, é uma coisa mais bonita do que se diz. Antes de vermos a pessoa, ou a coisa, não sabíamos que estávamos tão insatisfeitos. Porque não estávamos. Mas, de repente, vemo-la e assalta-nos a falta enorme que ela nos faz. Para não falar naquela que nos fez e para sempre há-de fazer.

Querer é descobrir faltas secretas, ou inventá-las na magia do momento. Não há surpresa maior.
(...)
Uma necessidade ocupa mais o coração durante mais tempo, que uma satisfação. Querer concentra a alma no que se quer, mas ter distrai-a." Miguel Esteves Cardoso


Automaticamente

Hoje sonhei contigo. Estranhamente sonhei contigo.
Estranho, por me lembrar do meu sonho (e que bom que foi contigo). E ainda mais estranho por ser contigo! É que mesmo que te veja quase todos os dias, já faz muito tempo que não trocamos mais do que um "bom dia", sussurrado entre os dentes. Poucas são já as vezes que esboço um sorriso, com medo de encarar o teu. O olhar também já raramente se tranca um no outro, como antigamente. Por vezes sou eu que o desvio, refugiando-o no chão cinzento, outras és tu que o vagueias numa parede vazia qualquer.

Acordei espantada. As sensações eram confusas, contraditórias.
Um consolo desconfortável. Éramos novamente cúmplices de olhares, gestos e palavras.
Não conheço os lugares por onde andámos, apenas que caminhámos abraçados a rir de uma parvoíce qualquer. Daquelas que eu sempre inventei para quebrar entre nós a tensão dos impossíveis. Tu sorrias e acenavas, como sempre fazias. Entravas no jogo e atiravas com outro disparate ainda mais absurdo. Sempre conseguiste arrancar-me uma gargalhada que me anestesiava de tudo o que eu não queria saber! Era essa liberdade que eu amava, de quem não leva a vida muito a sério. A casa pouco mobilada, o frigorifico vazio, a cama propositadamente por fazer. Os dias sem horas marcadas, as viagens à deriva sem planear nada.
Era essa liberdade selvagem que eu bebia de ti, deliciada, todos os segundos que entre gestos, olhares e palavras te consegui ter.
Ao teu jeito, passaste os dedos nos meus lábios, puxando-me o queixo para cima, para que os meus olhos fixassem os teus. Foi então que disseste as palavras mágicas, aquelas que apenas poderias proferir num sonho, as que evaporavam timidamente ao amanhecer: "Gosto tanto de ti". Soletraste devagar, para que eu acreditasse no que nunca conseguiste dizer.
Não me lembro de mais nada. Acordei baralhada. Queria voltar para aquele lugar encantado, conversar novamente contigo, abanar-te, sacudir-te, bater-te se fosse preciso.

Depois vi-te, agora à luz do dia, na distância do presente.
Estavas a 1 metro de mim e apetecia-me explodir, gritar-te que estive contigo esta noite. Mas não consegui.
Tu sorriste sereno. Eu também sorri. Automaticamente dissemos "Bom dia", apenas.

17 janeiro, 2012

Tu-inventado




Há um silencio profundo que se chama "verdade".

"Nunca me perdes com a verdade" disseste-me um dia.
Curiosamente, foi com as verdades que sempre me perdi do que mais queria.

Sei, agora, que não foste mais do que a minha própria invenção. 
A fantasia envolta em sedas que docemente criei, a obra que esculpi com as mãos hábeis da imaginação. Fantasma  de sonhos, perdido em noites de memórias, de medo e solidão.
Queria tanto, mas tanto, que existisses! Era tão ávida de paixão, era tão intenso o meu desejo.


Acreditei-te, com a ingenuidade de uma criança, a simplicidade de um pastor e a cegueira de um errante. Porque assim o quis, porque pintar-te ao meu jeito fazia-me feliz, levava-me para longe, fugia de mim. Não sinto falta de ti-inventado, mas egoisticamente do prazer que me proporcionaste. Dos beijos envolventes imaginados que embriagada bebi, do calor dos teus braços que no escuro da ilusão me enlaçaram, do cheiro que inventei para ti, do sabor do teu tacto. 
Acreditei-te com a fé de um peregrino que caminha confiante sem destino nenhum. 
Mas acreditar exige esforço e continuidade. 
E afinal, tu não existes... 
Apenas vejo a sombra da desilusão trespassar as cortinas do meu quarto. A visão embaciada, o sangue a bombear descompassado e a cabeça rodopia atordoada, não acredita em mais nada. 


Desacreditar é este buraco enorme que escavo em mim, a tristeza que persegue todos meus passos, as lágrimas que dormem teimosas na minha almofada.
É só mais um dia, umas horas, e o sono acabará por chegar de madrugada e sufocar o vazio que deixaste.

Conseguiria eu viver uma realidade fingida? Não, nunca fui por ai.
Tu não existes, eu sei. Foste inventado.


16 janeiro, 2012

Embalar o tempo



Gosto de embalar o tempo com uma canção. Num sussurrar indefinido, carente, desamparado.
Poderia quase chamar-lhe um sonho, se algum dia me lembrasse de ter sonhado. Assim, chamo-lhe canção de embalar.
Sento-me no seu colo e abraço-o contra o meu peito, afago-o num gesto meigo, como se lhe passasse a mão suavemente pelo cabelo encaracolado. Ele é esquivo, furtuito, agarro-o sempre com um beijo inesperado, impulsivo, de quem mergulha sem hesitar. E as línguas dançam aventureiras, enquanto o embalo embriagado no beijo mais intenso que podia cantar. Prisioneiro dos meus braços, ele não resiste. Acompanha o ritmo do meu corpo, docemente, reage ao som rouco que trauteio solitária. Parece nem reparar.
Gosto de embalar o tempo com uma canção, que me acalente a alma e faça voar.
A corda acaba a qualquer momento, para depois recomeçar.


14 janeiro, 2012

Beautiful lie


"E, afinal de contas, o que é uma mentira? / É apenas a verdade mascarada." George Byron

13 janeiro, 2012

Qual azar?

Hoje é 6ª feira 13. Dizem que dá azar... dizem. Não sei quem se lembrou de inventar um disparate destes.
Eu passo por baixo de um escadote, abro o chapéu de chuva dentro de casa e só bato na madeira se for numa porta para entrar... E não, com todos os meus defeitos, não me considero uma pessoa de azar... ok, uns tropeções na rua (muito graças aos saltos que insisto em usar), umas saídas menos felizes em que a minha boca é mais rápida que a razão, uns tiros no escuros que fazem ricochete... pouco mais.

Para mim hoje é, acima de tudo, SEXTA-FEIRA.
Mas para quem tiver algum receio do azar, deixo umas dicas para tornar este dia de sorte:

Partilhar um batido com um bom amigo, colorido ou não 

E se ele não quiser, é porque é parvo, convida-se uma girafa :)


Arriscar um desporto radical, de preferência pedindo ajuda a alguém a que nos apeteça muito estar agarrado :)


Convencer essa pessoa que está-se mesmo cansada e é preciso deitar-se à beira-mar para relaxar


...

Se nada disto resultar, que se lixe, valeu a pena tentar, a vida só interessa se a brindarmos de loucuras! 



12 janeiro, 2012

Esquinas



É quando pensa conhecer bem a rua por onde anda, de tal forma já a calcorreou de olhos fechados e entregou-se a ela sem medo, que lhe aparece uma esquina.
Aquele bico de pedra rude com que abruptamente chocou. Rasgou-lhe a pele inocente e sensível, quebrou todo o encantamento que perseguia. Acordou-a do estado hipnotizante onde mergulhara e feriu-lhe a carne descrente com a destreza de uma lança de ponta fina.
Reagiu, ainda atordoada, olhou para trás incrédula, percorrendo a calçada irreconhecível por onde andou perdida. Questiona-se como chegou até ali, para onde vai de seguida. Encolhe os ombros errantes, já não importa. Aquela rua, uma espécie de sonho falsificado por onde caminhou, termina fatidicamente no silêncio violento daquela esquina cinzenta e fria.
Sacode a cabeça para não pensar, olha em frente e alcança outra rua sem hesitar.
«O que precisas?», pergunta-lhe um desconhecido.
«De uma rua sem esquinas».


11 janeiro, 2012

Sorrir


Tenho quase o dever de sorrir sempre.
Ainda que me assole a maior tempestade, me doa o estômago de incompreensão, arda o peito de tristeza e impotência. 
Ainda que os músculos faciais tremam e teimem em ceder – há, em mim, um dever de sorrir. 
Porque o sorriso é a única arma que possuo. E acredito nela, convicta que derrubará gigantes e dragões, crente que iluminará o túnel mais longo e escuro e afastará todos os fantasmas e medos.
Sim, o meu sorriso aberto. Ele é o revolver que dispara, a espada que corta, o arpão que fere. É também o escudo que defende, o abrigo que protege, a concha que me recolhe do mundo.
Para lá do meu sorriso, há um labirinto imenso de contradições, uma desordem de pensamentos movediços, desconexos, agitados. Há fantasia e ilusão. Há inconstância e insatisfação.
Pensar é o acto mais solitário e masoquista.
Eu, sorrio sempre.



10 janeiro, 2012

Quanto vale?


"Olhando para trás talvez me tenha esmerado por ser coleccionador de nuvens (...).
Só descobrimos o tempo à medida que o perdemos. E, sendo assim, como se pode agarrar uma ilusão? (...) quanto vale o amor quando se esconde de nós?" Eduardo Sá


Esconde-se em mentiras, medos, esquecimentos, promessas ridículas e falsas intenções. De uma forma ou de outra o amor esconde-se, dissolve-se no tempo, e quando olhamos para trás vemos, atónitos, a mais pura ilusão.
Quanto vale o amor então?

08 janeiro, 2012

Uma vida inteira




É aqui, nesta montanha, que estarei à tua espera. Como sonhavas, numa casa de madeira com um rio lá mais em baixo para pescares.
Acendo a lareira, para que o corpo não arrefeça na ausência do teu. Ponho água a ferver para um chá e escuto o silêncio que me invade da calma lá de fora. É tão poderosa a memória, quando não se quer esquecer. Mas o tempo acalma a ansiedade, suaviza a dor de tudo o que ficou por viver.
Aqui não tenho relógio nem aponto os dias que vão passando numa correria. Quando acordo, abro os olhos  maravilhada com a natureza que me abriga, sei que é dia! Mais logo escurece e as estrelas visitam-me com o seu esplendor, "é noite", já sei de cor.
Nos intervalos minúsculos em que a vida não avança, permito-me imaginar onde estarás nesse momento, a quantos milhares de quilómetros de tempo, questiono-me se ainda virás, se será capaz o destino de nos juntar novamente. Sacudo a cabeça incomodada. O intervalo acaba bruscamente, antes de reparar na pele das mãos engelhada.
Um dia chegarás como combinado. Sentas-te ao meu lado no alpendre, com um cigarro na boca, dizes simplesmente com a tua voz aveludada "o que fazemos para o almoço?". Eu sorrio e finjo que não te esperei todo aquele tempo, uma vida inteira sem perceber. Sento-me ao teu colo como uma criança, enrolo-me nos teus braços que me enlaçam e sussurro ao teu ouvido "o que tu quiseres".



06 janeiro, 2012

Transparente



É tão fácil dizer “amo-te” que torna banal o amor. Não aquele entre amigos e família, que esse não interessa à mais eloquente poesia. O outro. O romântico e louco, que os poetas recitam sobre dois seres que se entregam de corpo e alma para todo o sempre. Como se o “sempre” fosse algo atingível.
Quando oiço essa palavrinha arranhada digo para mim que esse Amor é estúpido. Depois reconsidero, não é o amor, são as pessoas. Aquelas que mais proclamam tamanha loucura. Há quem ame tudo, a toda a hora, de boca cheia e peito inchado de orgulho. Desde a formiga que passa em carreiro pela cozinha, até a cozinheira do restaurante onde almoça todos os dias. E, olhando bem nos olhos baços dessas pessoas, apenas sabem que amar é um verbo e que só o conjugam na primeira pessoa.

[Há um homem que vai de bicicleta comigo todos os dias no comboio. Conheço há anos, o seu colete florescente e cada traço do seu rosto enfiado num capacete. Já lhe perguntei as horas apenas para ouvir a sua voz. Gosto de o ver pela manhã, contempla-lo a sair no Cais do Sodré de bicicleta na mão. Era capaz de o observar um dia inteiro, tomar um café com ele e perguntar-lhe o que quer da vida neste mundo dormente. Gosto estupidamente dele. Não o amo.]

Foram poucas as vezes que disse “amo-te”. Porque foram também poucas as vezes que realmente amei alguém, mas não lamento. Quando amei fui estupidamente verdadeira. Não duvido que quando disse “amo-te” por palavras e gestos, saiu límpido dentro de mim, como a certeza mais pura. Talvez tenha amado pouca gente, quase ninguém, mas quando o fiz, não gastei a palavra em vão. Fui autêntica, transparente.
Não respiro na opacidade da mentira.



04 janeiro, 2012

Caminhos paralelos

«Linhas paralelas que não tardaram a encontrar-se, porque a vida não é assim tão geométrica» Mário Zambujal



Então está combinado. Eu sigo por aqui, tu segues-me de perto. Mas seguimos os dois na mesma direcção. Posso ver-te, tocar-te, sentir a tua respiração rente ao meu pescoço e o calor da nossa intimidade.
Já não penso como antes. Convenceste-me com o carinho do teu abraço, o deslumbre das tuas palavras e a insanidade envolvente dos teus beijos. Hoje não quero mais cruzamentos que atravessem a alma, a atropelem bruscamente para depois seguirem rumos opostos.
Quero seguir a teu lado. Na constante euforia que me veste, mas sorrindo com a calma que aparentas. Sei que por dentro ardes como um vulcão pronto a explodir a cada instante, de loucura, desejos e medos. Nessa altura acompanho-te, afago o teu rosto inquieto e deixo-te repousar no meu peito. Sou agora a calma que te encontra submerso, o brilho que te puxa do escuro. Por vezes com uma gargalhada, porque a vida não pode sempre ser levada a sério. Mordo-te o lábio e percorro-te o pescoço, vicio-me no teu cheiro, no teu sabor. Estás aqui, mesmo ao meu lado, no caminho paralelo. Como o corrimão de uma ponte imensa que percorremos juntos, para nos encontrarmos lá ao fundo onde a geometria quebra as suas regras.



02 janeiro, 2012

Esta noite



"Psssttttt....faz amor comigo". 
Arranca-me do escuro com a violência de um furacão. Arrasta-me. Leva-me para longe. 
Mesmo que me debata contra o teu corpo robusto, que rasgue a tua roupa, arranhe as tuas costas e irrompa nos teus braços, queimando como a lava de um vulcão. Que o suor entre nós dois seja uma mistura ácida de medo, dor e prazer. Porque a loucura não tem limites, nem pudor.
Luta, se quiseres, contra o ímpeto selvagem que me habita. Domina-me, ou aceita-me assim mesmo, nua de raciocínio, envolta em contradições. Em delírio, a pele embriagada transpira a sede de querer sempre mais, insatisfeita, descontrolada tacteia sem rumo. Ninguém possui ou é possuído. É uma guerra inútil, sem vencedor. Entrega-te e eu rendo-me. Fugimos de nós, do mundo. 
É nessa altura que sussurro-te ao ouvido “Vem comigo”. Esta noite quero voar pelo desejo e perder-me nele como por magia. Faz amor comigo.