Cais de Embarque
«Nunca é agora entre nós, é sempre até Domingo, até sexta, até terça, até ao próximo mês, até para o ano, mas evitamos cuidadosamente enfrentar-nos, temos medo uns dos outros, o medo do que sentimos uns pelos outros, medo de dizer Gosto de ti.» António Lobo Antunes
07 dezembro, 2025
Partir
29 dezembro, 2024
Balanço da vida
Sei que uma vida só não me basta para tudo o que sou.
Não sei bem quanto tempo passou, nem como se mede o tempo que se espera e desespera nas voltas que damos no nosso sistema solar. Mas que importa o tempo. Os dias quentes, as noites frias, as longas madrugadas. Se os minutos escorregadios transformaram-se em horas apressadas, em dias velozes esquecidos no meio de meses empoeirados, em longos anos turbulentos de saudade.
Ainda assim permaneceste intacto no meu peito. Sei que me trazes segura no teu. Com as nossas partilhas e fantasias guardadas. E aqui, do meu penhasco mais alto, nos dias calmos em que a neblina passa, sento-me ao fim da tarde e acredito que te vejo passar ao longe, no teu planeta distante. E ali sentada, converso contigo como antes. Sobre os nossos tudos e os nossos nadas, sobre as minhas realidades paralelas inventadas, sobre os múltiplos eus que convivem em mim, sobre as loucuras mais inebriantes e as nossas histórias imaginadas. Perco-me facilmente na nossa conversa pela madrugada.
Há contudo, em mim, um desgaste de sonhos perdidos pelo caminho voraz das desilusões que não consigo apagar. Não sei quanto tempo passou, nem quanto tempo me resta, neste balanço de vida que faço hoje aqui. Mas sei que uma vida só não me basta, nunca chegou, para tudo o que sou. E há tão pouco de mim no visível aos olhos dos demais.
Aconchego a manta junto ao corpo e respiro fundo. Tu estás aí. Ouves-me. Eu estou aqui. Teremos sempre a madrugada.
26 fevereiro, 2022
Levantar voo
O ruído dos motores aumenta à medida que avança na pista. Ganha força e arranca em direção ao infinito. Liberta-nos da terra. Das amarras da rotina. Troca-nos a realidade por fantasia. E de cima, vemos o mundo ficar cada vez mais distante , ridiculamente reduzido, até que o perdemos de vista. Há algo de inebriante no momento de descolar. Como se a alma se separasse do corpo, flutuasse, leve, e a deixássemos ir, ávida do desconhecido. Sempre foi mais fácil para mim partir do que chegar.
Detenho-me, frequentemente, nos tons laranja e rosa de um por do sol. Acalmam-me da desorganização da vida. Para muitos é o fim do dia, um ponto de chegada. Para mim é um ponto de partida. Onde encontro, numa espécie de paz, a segurança de me encontrar numa existência tão breve quanto possível. Até que o conforto da minha cama me chama, atrai-me para o passar de mais uma noite, repetitiva. Prende-me à roldana que alimenta os impiedosos ponteiros do relógio. Para acordar novamente. Sair para o abismo diário do silêncio entre os corpos, gentes frente a frente, a distantes centímetros de letargia. Somos cada vez mais desconhecidos.
Fazer da vida um paraíso, sempre foi a minha maior utopia. O mito da felicidade que não existe. Agarro-me impotente a visões fragmentárias de momentos felizes. Os rostos, as vozes e os risos que nos preenchem o vazio. Assusta-me a morte de quem amo, a eterna ausência, a verdadeira nudez que é a perda de sentido para tudo.
É de noite e olho pela janela o céu escuro, estrelado, e procuro nele as respostas interditas. Nesse estado de paralisia temo perder-me de mim mesma num lugar desconhecido. Onde questiono se serei um outro eu, se essa será uma não vida. É nesse momento angustiante que anseio levantar voo. Trocar a realidade pela fantasia.
08 fevereiro, 2021
Distrair-me da vida
30 janeiro, 2021
somos felizes

Somos felizes quando amamos.
Digo para mim que é puro egoísmo.
Queremos tanto ser felizes, que amamos.
Loucamente. Sem freios, medos ou atilhos.
Esculpimos a matéria-prima, moldamos ao nosso desejo e fantasia.
E ignoramos o que nos incomoda, varremos para baixo da cama
ou fechamos em gavetas escondidas.
Porque a cegueira é o estado natural de quem ama,
por vezes um perfeito desconhecido.
28 janeiro, 2021
Intenso
25 janeiro, 2021
Quando se volta a escrever
Quando se volta a escrever, há qualquer coisa de estranho.
As palavras atropelam-se sem explicação e as frases parece não fazerem sentido. Mas quero muito voltar, expurgar aqui, neste meu canto, as emoções, os choros e os risos.
Foram alguns anos de luta, para não escrever. Porque a escrita tanto nos preenche a alma como nos sacode o corpo e o atira ao chão. Por vezes torna-se um carrasco invisível. E eu recuei a medo, confesso. Medo das palavras escritas. Contruídas em frases que nos abana o caminho. É tão mais fácil seguir sem pensar, não trazer agarrado ao corpo todas as ervas daninhas. E a escrita revela os nossos espinhos, deixa por vezes em carne viva todas feridas.
Ainda assim, quero voltar a escrever. Escrever é também viver outras vidas, é ir a qualquer lugar, é sentir o que nem sempre nos é permitido. É sair de nós e sermos muitos, gigantes, invencíveis.
Voltei ao curso de escrita criativa :) já é um avanço!! Espero vir aqui um bocadinho sempre que possível.

