30 setembro, 2011

Bolhas de Ar



Foi despida que se entregou às águas encantadas que a abraçaram. Sentiu que era lá que encontraria a calma que desesperadamente procurava. Um mar imenso de água salgada, sereno de palavras, tão belo como infinito. Porque toda a beleza é, por si só, ilimitada.
Pensou em dar um único mergulho, para se refrescar do calor do Verão. Era apenas um ir e voltar fugaz. Por isso entrou nua de medo, mar dentro, desprotegida, despida de hesitação, sedenta de paz.
O mar foi arrefecendo o ardor das feridas gravadas na pele, curando-as com bondosa suavidade e atenção. O seu ritmo, tranquilizante, embalava-a, como por magia, entre carinho e paixão.
Sem notar, estava já longe da costa, rodeada da água salgada, perdida em alto mar. Não percebeu o que aconteceu, porquê, ou como foi ali parar. Apenas submergia o seu corpo frágil, não sabia se vivo ou morto, naufragado a flutuar.
Tentou esbracejar, em vão, assustada, quando percebeu que se estava a afastar. Sem fôlego não conseguia mais debater-se com as correntes que a arrastavam e puxavam para o fundo do mar. Num remoinho de dúvidas, apoderou-se dela uma espécie de paralisia que a impossibilitou de nadar. Deixou-se ir, pelos lábios da maresia que a percorriam sequiosos, impedindo-a de pensar. Daquela forma esdrúxula, imprevisível, intensa, apertava-lhe os pulmões violentamente, deixando de respirar.
Em águas profundas, encontra-se um corpo despojado, tão maravilhado quanto agitado, preso a uma rede de indecisões, sem saber se deve fugir ou ficar.
«tenho medo» sufoca entre espasmos de dor, soltando lágrimas aprisionadas em bolhas de ar.

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