«Nunca é agora entre nós, é sempre até Domingo, até sexta, até terça, até ao próximo mês, até para o ano, mas evitamos cuidadosamente enfrentar-nos, temos medo uns dos outros, o medo do que sentimos uns pelos outros, medo de dizer Gosto de ti.» António Lobo Antunes
13 fevereiro, 2013
para aquecer-me
É sempre tempo de te abraçar,
dizer olá de sorriso composto, aprumado, acenar cordialmente adeus.
É sempre tempo das palavras usadas brotarem, repetidas,
num eco familiar,
permitindo um pronuncio de saudade do que não se foi,
do que não se teve e heroicamente se afogou num imenso oceano de culpas e medos.
Tempo de descobrir a razão das dúvidas, a génese do sofrimento.
Ou na incerteza, apenas acreditar cegamente no bloqueio dos sentimentos.
É sempre tempo de te abraçar, devagarinho,
invadir-te com palavras que escorregam desastradas do parapeito da janela.
Dizer-te que não sei o que espero, nem quando,
ou mesmo se esperar é o verbo conjugado na gramática dos meus sinais.
O imediato bonito e breve está gasto, confesso-te. Não me regenera o sangue coagulado nas lembranças.
Para aquecer-me é preciso tanto, é preciso mais.
08 fevereiro, 2013
Palavras suspensas
Sinto falta de conversar contigo.
Sinto falta de muita coisa entre nós, mas sobretudo de conversar contigo.
Sem regras. Sem pressas. Sem nenhum assunto específico. Libertar as palavras que trago encravadas na garganta, abafadas de incompreensão e carência. Abandonadas no escuro. Para encontrar nos teus sentidos um porto de abrigo, um lugar seguro. Enquanto falo, sem pensar, sobre as minhas verdades inteiras, os detalhes mais ridículos do mundo, tu abraças as palavras, como se fosse a tua almofada preferida, aquela que te devolve o sono mais tranquilo e profundo. Abraças e envolves as minhas palavras suspensas, em gestos meigos de carinho.
Podia mentir-te agora. Mas não consigo.
Sinto falta, tanta falta, de conversar contigo.
02 fevereiro, 2013
Felicidade

Ás vezes ela está ali mesmo ao nosso lado. Sentada no banco de jardim abandonada.
Segue-nos com os olhos, passa a mão pelo nosso cabelo e afaga-nos o rosto.
Está ali e é o aconchego do calor que sentimos, como se nos abraçasse. O sorriso cansado mas verdadeiro, a espera que tarda em ser alcançada. Está ali mesmo ao nosso lado, onde sempre esteve. Serena. Paciente.
De olhos vendados, tacteio. Procuro-a confusa, hesitante.
É então que surges novamente, empurras os meus medos, seguras no meu peito.
No limite do impossível: reinventas-me. Ocupas-me. Desejas-me.
Tu. És tu, a Felicidade que vejo.
Subscrever:
Mensagens (Atom)