24 junho, 2011

Corro para ti


No meu sonho estarás sempre no pontão de madeira, com uma cerveja na mão, à minha espera. Sorris para mim, de olhos rasgados e balanças descalço o corpo desengonçado.
E eu? Eu corro para ti. Mais uma vez, corro para ti.

«Falta-te permanência, sabias?» Grito-te em vão. «És tão intenso como breve», sussurro-te ao ouvido.
Ainda assim, eu corri para ti. Corri estupidamente para ti.
Corri quilómetros de ansiedade contra a vida , corri contra a direcção do vento, contra a racionalidade do espaço e do tempo. Foi sempre assim que eu corri para ti.

Um passeio de rua, um banco de jardim, um areal. É por aí que eu vou-te encontrar sempre. Perdido, como um sem-abrigo. Contigo a vida pára ao relento, num chão de madeira gasta, despojada de regras e medo. O tempo pára, ali no meio de uma estrada, num qualquer banco de carro, só para o meu corpo encaixar-se no teu, de tal forma perfeita que doi a soltar-se. O relógio pára, para me seduzires com a voz aveludada, e quase sem dizeres nada já estou embriagada no cheiro da tua pele, envolta nos teus braços.
É sempre assim, enfeitiçada, que me perco em ti, num caminho recto sem atalhos. Apareces do nada. Vejo-te ao fundo com uma cerveja na mão, os olhos castanho mel num sorriso rasgado. E eu corro para ti, para me sentir novamente viva. Com o sangue a pulsar nas veias e o coração a sair pela boca. Não há limites para o desejo. Por isso eu corri, corri sempre estupidamente para ti.

3 comentários:

Cláudio disse...

Hum, bem me parecia que conhecia de algum lado, esta deliciosa forma de escrever ;)

Unknown disse...

Escreveste aquilo que eu poderia ter escrito se soubesse fazê-lo desta forma tão clara e assertiva.

Eu também corro sempre, apesar de não sair do lugar. Talvez espere apenas que aquele alguém sinta vontade de correr para mim...

Gosto tanto de te ler...

beijo grande

sgar disse...

Sim, Cláudio, sou eu! Aqui é mais arejado!! E não Ne esqueci de te enviar o conto na próxima semana ;)
Natacha, por vezes achamos que não saímos do lugar, que andamos aos circulos, que não vale a pena... mas o importante é a energia que nos move a correr, sentimo-nos vivos! Beijinhos aos dois! (e não sei se isto vai ficar aqui, estou a escrever do telemóvel... )