16 setembro, 2011

Palavras mortas



Oiço com tristeza as tuas palavras mortas.
Elas habitam o vazio, inventadas de artifícios. Condenadas ao isolamento de nunca verdadeiramente existirem.
Mortas, jazem a meu lado, desprovidas de sentido. São palavras soltas, coladas em frases eloquentes mas invisíveis. Questiono se o propósito será o meu encantamento ou feitiço. Contemplo-as espantada de admiração, quase sendo seduzida. Mas para lá delas, não vejo mais nada. Só cadáveres, fantasmas macilentos sem brilho. Palavras que sucumbiram antes de terem nascido.
Falta-lhes a coragem para existir, viver tudo o que declamam no escuro. Sorumbáticas, elas não reagem, balbuciam demagogia. Oiço as palavras defuntas, em frases desmembradas onde perco o raciocínio. Talvez por serem ocas, disformadas, sem corpo que as absorva e lhes dê abrigo.

Prefiro as palavras sinceras e destemidas. A magia do directo e simples, mesmo que mal escrito. Prefiro as palavras que enfrentam os olhos, valentes, avançam sem colete salva-vidas. Mergulham de cabeça, desafiam a morte, entregam-se na plenitude de existirem. Abrem os braços ao corpo e à mente, enfrentam com a carne o perigo. Mas essas são as palavras que nunca me dirás ao ouvido.

4 comentários:

Ivete disse...

Muito bonito! Parece que andamos todos às voltas com o sentido das palavras...

sgar disse...

É verdade, andamos sempre... e por vezes é no silêncio que nos entendemos melhor :)

Ametista disse...

Fantástico.. sem mais palavras..

Abracinho :)

sgar disse...

Amestista, abracinho recebido, apertadinho e VIVO!! Beijinhos