17 abril, 2012

entre ferros


Por vezes vejo o céu, lá ao fundo, aprisionado. 
O imenso azul trespassado por ferro escuro a rasgar nuvens. 
Apodera-se de mim a tristeza da consciência, do que se perde e não volta mais. Não me apetece falar, sorrir ou escrever. É um estado catatónico, de inacção, inércia, rigidez. 
Há um brilho lá fora, eu sei, há um brilho que me chama incessantemente, mas eu não consigo ver. Não por agora. 
Talvez ainda me aperte a memória da cumplicidade vivida, ou me doa a falta da tua companhia, agora sonhada. Sinto falta de conversar contigo. O abraço que me sustentava, o vazio que me preenchias. Sinto falta desse abrigo onde me refugiava todos os dias. 
Há tanto, mas tanto, que ainda tenho para dizer amordaçado, mas as forças esmorecem com o cair da noite, e as estrelas hipnotizam o pensamento, o raciocínio. E nada faz sentido. 
Deixo-me estar aqui, isolada, neste lugar longínquo, como condenada. Vejo o céu a brilhar lá fora, sem perceber que sou eu própria que estou aprisionada. 
Falta-me o ar das palavras que me beijavas ao ouvido.



4 comentários:

S.o.l. disse...

Tenho dias assim... é a falta de quem já partiu.

Beijo

Eu Mesma disse...

S.o.l.

Também tenho dias assim.... mas pela ausência de quem amo.

S.o.l. disse...

Exacto... :)
Quem já partiu e se ama...

sgar disse...

Por vezes não é preciso sequer partir, basta não "estar" como antes, faltar-nos mesmo que esteja ali ao lado, e não lhe podemos "tocar", "confidenciar", "entregar" :)