26 agosto, 2011

Desistir


«Canção de Amor
Como hei-de segurar a minha alma
para que não toque na tua? Como hei-de
elevá-la acima de ti, até outras coisas?
Ah, como gostaria de levá-la
até um sítio perdido na escuridão
até um lugar estranho e silencioso
que não se agita, quando o teu coração treme.
Pois o que nos toca, a ti e a mim,
isso nos une, como um arco de violino
que de duas cordas solta uma só nota.
A que instrumento estamos atados?
E que violinista nos tem em suas mãos?
Oh, doce canção.» Rilke


Desistir é das palavras mais tristes do dicionário.
Há nela vincada uma impotência que fere, angustia. Que mata e me desfaz.
Desistir. Largar silenciosamente o que me prende, mas não satisfaz.
Para ficar de bem comigo, compreender-me.
Ainda que me queime o sangue nas veias, que me abafe a respiração.
Ainda que a perda seja um precipício gigante e a queda uma dor que rasga o corpo de tristeza, de solidão.
Mesmo quando as almas se fundem, como se de uma só se tratasse, as conversas amam-se viciadas numa espécie de eternidade. A realidade acorda-nos, sacode-nos o dia-a-dia, é ele o abismo que nos separa.
Questiono, talvez num acto de egoísmo, a que estamos afinal agarrados?
Como uma marioneta sem fio caímos soltos, desarticulados.
Uma escuridão, desalento. Não tenho certezas, não entendo mais nada. De tanto que nos atropelou o tempo, de tanto que desbravámos passados. Estamos tão juntos e irremediavelmente separados.
Diz-me então, como podemos subir mais alto? O que nos espera quando lá chegarmos?
Um mundo imaginado em labirintos de aço. Duas almas dispersas, perdidas no espaço.
Parto, sigo em frente, quando o que tenho não me satisfaz.
Num sopro de despedida, não sorrio. Pelo contrário.
Desistir é, sem dúvida, das palavras mais tristes do dicionário.

2 comentários:

T disse...

Adoro a última rima, 'Num sopro de despedida, não sorrio. Pelo contrário.
Desistir é, sem dúvida, das palavras mais tristes do dicionário.'
Estou a ver que o curso de poesia te inspirou =)

sgar disse...

Estou a gostar mas... não tem nada a ver! Se visses as coisas que escrevemos no curso de poesia... a regra é "quanto mais estranho e descabido melhor, não importa o sentido, aliás, a regra é sem sentido" crazy!