19 agosto, 2011

Precisava de amar-te


Em toda a minha vida precisei de amar-te.
Como se não existisse mais ninguém, nem mais nada. Tu, apenas um tu, para abrigares o meu corpo frágil no teu, enredares-me nos teus braços. Foi sempre ali que eu quis ficar. Mas foram sempre instantes de tempo, fugazes, com hora de partir, sem saber quando voltar.
Precisei de amar-te como de respirar. Por isso conservei-te naquele limbo de memórias turvas que lutamos por agarrar.
Arrastaram-se os dias, voaram os anos, um tempo que passou por mim lento, tão lento sem ti. Mas continuei a amar-te. Com uma cegueira voluntária, num derrame interior, no marejar de lágrimas disfarçadas. Sabia que era mesmo assim, amava-te para sentir-me feliz. Precisava de amar-te, ter-te dentro de mim. Para continuar.
Ainda que tenha sido uma batalha perdida, uma ferida por fechar, um impossível, continuei a amar-te. Desmesuradamente, numa loucura voraz. Como um desejo perpétuo que nos queima e nunca se satisfaz.
E, ainda hoje, sei que continuo a amar-te. Com a tontura, a agitação e a entrega de sempre. Como um alimento para sentir-me viva, a chama que arde por dentro.
Mesmo que o corpo não seja o teu, amo-te sofregamente todos os dias. Persegue-me o teu olhar meigo, o sorriso dos teus lábios, deslumbro-me no cheiro da tua pele, entrego-me no deslizar das tuas mãos, desfaço-me com a tua voz aveludada.
Toda a minha vida precisei de amar-te, para amar. É uma âncora pesada demais, não a consigo levantar.

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