14 abril, 2012

centímetros



Então fica assim.
Temos a nossa distância de segurança. 
São estes os centímetros híbridos que nos separam. Tu e eu.
Um em frente ao outro na linha ténue, invisível, que traçámos a dois. 
Parados. Os corpos estremecem, os olhares refugiam-se embaraçados.
A boca seca, sedenta de um beijo molhado.
Passo a língua pelos lábios, enquanto os meus olhos perdem-se nos teus quando falas.
Mas as palavras soam ao fundo desconexas. Já não te oiço, o chão treme e a cabeça voa. 
Não me consigo concentrar. Desculpa. 
Talvez porque estamos perto, demasiado perto. E ainda assim, sei que não te posso tocar.
Confundes-me sempre a centímetros de distância, talvez seja o teu cheiro. Ou o teu olhar.
Enquanto me contas algo que não perceboos teus olhos sorriem. Sorriem e e só esse sorriso que vejo.
Indiferentes à multidão que embate nos nossos corpos, imóveis, a escassos centímetros, encontram-se inquietos os nossos olhos, percorrem impacientes as nossas bocas.
A imaginação atordoa-me numa espécie de falta de ar. Quase sufoco. Com se a vida parasse naquele instante insanoDebato-me comigo, enfurecida, na luta antiga, diabólica, entre a razão e desejo.
Resisto.
São incómodos os centímetros híbridos que nos separam de um beijo.


2 comentários:

Dina disse...

Já há muito tempo que "não andava por estes lados" mas como sempre gostei de tudo o que li,este texto é algo sedutor adorei!!!
Os centímetros ao longo da descrição pareciam metros tão perto e ao mesmo tempo tão distante :) bjs grds

sgar disse...

Minha querida, é tão bom ter-te por aqui!
Acho que há centímetros assim, que fogem a qualquer unidade de medida universal, talvez por isso sejam incómodos :)
Um beijo enorme