19 outubro, 2011

Saudade


Há uma dose de egoísmo na palavra "Saudade".
Essa doença que deixa o corpo em dormência, a visão turva e o raciocínio lento, gasto. Queremos ter, porque sentimos falta. E a garganta seca das palavras que não saem na hora certa. Orgulhosas, debatem-se e proclamam seguras "Boa Viagem" quando por dentro ecoam dolorosamente, "Vou ter tantas saudades".
Depois chegam, vitoriosas, as saudades arrebatadoras. Deitam-nos ao chão indiferentes ao nosso esforço inglório para as receber com calma, em vez de ansiedade. Apoderam-se do corpo, da mente e, num golpe fatal , acertam-nos no peito. Um arrepio, o medo, o desespero do que ainda nem foi e já nos rasga. O vicio é um bicho feio, corrosivo, um vírus nefasto.
«Bolas, vou ter saudades tuas, de ter-te todos os dias, um pouco que seja, estares aqui». Suspiro agitada. Questiono-me a todo o momento, onde estás? Quando voltas? Porque já sinto a tua falta...
Mas nada te pergunto, num silêncio tremido, solto apenas numa voz abafada "Boa Viagem".
Há uma dose, imensa, de orgulho... na palavra "Saudade".

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