08 fevereiro, 2012

Conversar comigo





Não é que as palavras me faltem.
Não é que se escondam, ou que eu as ignore.
Elas soltam-se incontroláveis, vagueiam desamparadas na escuridão do imenso vazio onde procuram o calor dos braços que as abriguem.
Não é que me faltem as palavras, elas jorram sangrentas numa hemorragia imparável, letal. Arrastam-se como um pedinte, esfomeado e sedento, mutilam-se, confortam-se. Matam-se de contradição.
Mais uma vez solto-as e começo embalada. Mais uma vez desisto e não termino.
Recolho-me no meu canto, invisível, perdida em pensamentos confusos, obrigo-me a um silêncio profundo. Uma mudez que consome todas as horas solitárias de insónia. Até o amanhecer sacudir-me o corpo frágil e endurecido. 
Um dia mando tudo aquilo que não te digo. Até lá, guardo as palavras, espalhadas em rascunhos desorganizados, sem sentido. Escuto-as, sempre irritada com o que me dizem. Apago-as, rescrevo-as vezes sem conta, numa batalha campal como se elas fossem o meu pior inimigo.
Escrever sempre foi a melhor forma de conversar comigo.




2 comentários:

S.o.l. disse...

Mesmo assim as palavras não se calam. Podes calar-te tu, espernear, ignorá-las, combatê-las, que elas serão escritas na mesma, se não for no papel, será no pensamento.

E quantos e quantos post´s não formamos nós em pensamentos? :)

Beijinho

sgar disse...

É mesmo Sol, são um verdadeiro icebergue , fica tanta coisa sempre por dizer, muito mais profundo do que foi dito :) beijinho