22 julho, 2011

Tela mágica


No seu planeta distante, via-o passar, na tela mágica, na sua camioneta velha.
O braço de fora da janela, bronzeado e musculado deliciavam os seus olhos que vagueavam fantasias. Depois o olhar descontraído, parecia que assobiava uma qualquer música enquanto conduzia. A sua vida era aquela estrada, a camioneta velha onde encontrava abrigo. Ela dele não sabia mais nada, mas estava fascinada com este desconhecido.
Olhava-o com atenção e, por vezes, quase jurava que ele também a via, esboçava um sorriso rasgado e parece que lia nos seus lábios formar-se a frase "Bom dia minha doce companheira".
Logo sorria, mesmo sabendo que ele não a estava a ver, sorria de alegria, do aconchego que estas palavras lhe davam, enfeitiçavam o resto do seu dia. Então contava-lhe as suas histórias, o que pensava, sonhava e sentia. Esbracejava, ria, derramava lágrimas. Sussurrava-lhe docemente, como se fosse a estação de radio que ele ouvia.
Recostava-se depois na sua casa de chão, questionando se algum dia os seus mundos se poderão cruzar. Se ele conseguiria entrar no seu espaço e partilhar aquele pedaço de relva macia onde ela dormia, abraçar o seu vento que roçava nas árvores sem perigo, sem pressas, sem horas. Abraça-la a ela, em sintonia. Compreende-la, aceitar o seu planeta distante, uma alienígena esverdeada, um mutante... Será que ele a queria?

Por enquanto ele era apenas uma tela mágica, com um sorriso. A frase doce pela manhã que a acarinhava, um delicioso desconhecido.

2 comentários:

Tiago disse...

Histórias á parte, já nos devemos ter cruzado várias vezes! =)

sgar disse...

Tiago, toda a gente se cruza mais dia menos dia, o mundo é minúsculo... resta saber se nos reconhecemos com os olhos ou se precisamos de algo mais!