12 julho, 2011

Tempo


O corpo balançava ao som do vento, numa brisa suave matinal. Também os cabelos esvoaçavam, ainda húmidos, colados ao rosto. Ao seu lado um corpo delgado, hirto, olhava o vazio. Os olhares não se cruzaram depois do quente da noite, nem os braços, ou os corpos se abraçaram depois de se vestirem. Nada. Um ar gélido cercava-os, entre os dois uma distância de centímetros intermináveis, separados por uma barreira invisível.
Ele pediu-lhe tempo.
«Quanto?» perguntou.
Ele abanava a cabeça confuso. Não sabia. Não usava relógio, não se recordava sequer em que mês estava, nem do dia. Apenas «Tempo» disse numa voz rouca, cravada de intimidade e agonia.
«Quanto?» voltou a perguntar-lhe sem mover o rosto, pálido, de lábios secos pelo frio. Os olhos ficaram baços. Os dele, ela não sabia. Apenas sentiu o corpo delgado a afastar-se, talvez empurrado pelo vento, pensou por momentos, ou talvez por cobardia.
A voz rouca sumia ao longe «2.000 km de tempo» respondia-lhe.

2 comentários:

Cláudio disse...

2000km é muito tempo :)

sgar disse...

um verdadeiro tornado, não sobra nada :)